Anos 1980

Um Sindipetro de massa a serviço da categoria e do país

A década de 1980 representa a consolidação de um novo momento do Sindipetro-LP, iniciado no fim dos anos 1970. Além das conquistas inéditas, o Sindicato ganhou repercussão nacional na luta pela redemocratização do país e na formatação do sindicalismo da Nova República. Com a confiança dos petroleiros reestabelecida, o Sindipetro começou a década de 1980 com passeatas e protestos.

Grandes passeatas, mobilizações e assembleias. Os anos 1980 consolidaram o Sindipetro-LP como uma das entidades sindicais mais combativas do país.

A Associação dos Trabalhadores Aposentados na Indústria de Destilação de Petróleo de Cubatão, Santos e São Sebastião (Astaipe) foi fundada ainda nesse ano, fortemente ligada ao Sindicato. Novas reivindicações foram atendidas, como a redução para 40 horas semanais na jornada de trabalho do TEDEP (hoje Terminal Alemoa), em Santos, e do TEBAR, em São Sebastião, e o atendimento médico integral aos filhos excepcionais dos petroleiros. Tudo isso era resultado das lutas travadas pela categoria.

A recessão econômica assombrava o país e os trabalhadores; o Sindipetro conseguiu a garantia de que a Petrobrás não dispensaria coletivamente seus empregados. Naquele período, refinarias seriam desativadas e as demissões em massa eram uma realidade.

Ao mesmo passo, o Sindipetro ampliou os direitos dos aposentados e combateu a discriminação salarial. Em 1981, a Petrobrás rebaixou os pisos dos empregados contratados, mas, em 1984, a pressão do Sindicato fez com que a empresa respeitasse o acordo coletivo de 1979 e elevasse os pisos.

Um dos fatos mais marcantes da década, pois expressava o esforço coletivo da categoria por um bem comum, foi a inauguração de sua sede, em Santos, em 4 de junho de 1983, após três anos e meio de obras. Quando elaborado, em 1976, o projeto da sede teve como objetivo principal criar um centro de resistência, com características e elementos que dessem força e ânimo aos trabalhadores. Idealizado pelo arquiteto Nelson Colombo, o prédio tem o formato de um acicate, ferramenta usada para cutucar boiadas, “como se a sociedade estivesse sendo cutucada”, conforme explicou Colombo em entrevista ao Sindipetro-LP no aniversário de 50 anos da entidade.

Um espaço onde as manifestações da categoria pudessem acontecer, sem sofrer intervenções da polícia, era essencial. Assim, surgiu a ideia de fazer o estacionamento na frente do prédio. Com espaço para 8 mil pessoas, toda a área externa da sede, no térreo, é livre, sem grades, muretas ou qualquer empecilho para trânsito dos manifestantes. “Qualquer problema, era só fechar o portão que estávamos de frente pra rua, mas em uma propriedade particular, protegidos da polícia”, apontou Colombo. Em São Sebastião, a subsede passaria a ser construída um ano depois, em 1984, e inaugurada no dia 20 de junho de 1985.

Os mais jovens passaram a integrar diretamente as ações sindicais, encontrando respaldo na organização petroleira. Edson Satochi, que era “borracho” naquele período, como eram chamados os trabalhadores mais novos de casa, relembra a força da cultura operária na base do Sindipetro Litoral Paulista. Quem faltasse à assembleia, no dia seguinte não era perdoado.

Aliás, foi em 1984 uma das mobilizações mais marcantes da família petroleira em toda sua história: a luta pela preservação das 6 horas do regime de turno, envolvendo não só os trabalhadores, mas também esposas e filhos.

Na porta da refinaria, petroleiros recebem o apoio das famílias.

Rivaldo Ramos e Gonçalves, que foram parte desta luta, relembraram aqueles dias em que enfrentaram a gestão da refinaria, a Polícia Militar e os fura-greves.

Os jornais da época também deram amplo destaque àquele processo, que teria desfecho vitorioso aos trabalhadores. E a Petrobrás, com seus comunicados, tentava em vão disputar a consciência dos trabalhadores e de suas esposas. Num comunicado dirigido especialmente a elas, apelou ao “bom senso feminino”. O bom senso daquelas mulheres, como hoje sabemos, foi ocupar a porta da refinaria.

Em 1985, foi conquistada a aposentadoria especial aos 25 anos de trabalho – até então eram 35. Rivaldo Ramos relembra essa bandeira, fundamental para preservar a saúde da categoria. Naquele ano havia disputa eleitoral no sindicato e a chapa 1, encabeçada por Pedro Sampaio, se consagraria vitoriosa.

Imagens das mobilizações em função da campanha salarial de 1985 e dos membros da chapa 1, encabeçada por Pedro Sampaio.

"Diretas Já!"

A luta pela reabertura política do país era expressa na campanha das “Diretas já!”. Os petroleiros do Litoral Paulista não ficaram de fora. Inúmeras assembleias, reuniões e comícios foram organizados pelo Sindicato, bem como o custeio e mobilizações de ônibus para diversos atos que pipocavam pelo país. Santos, Cubatão e São Sebastião estavam sob intervenção e o Sindicato iniciou ampla campanha para retomar as autonomias políticas dos municípios, recuperando as eleições diretas.

O período era positivo para o movimento sindical, pois a região do ABC paulista explodia em greves operárias, lideradas pelo Sindicato dos Metalúrgicos. Desse processo surgia um líder que faria história no país, Luís Inácio Lula da Silva. É nesse momento que se forma o Partido dos Trabalhadores (PT), um partido que se tornou alternativa aos militantes de esquerda, órfãos dos partidos operários, enfraquecidos, praticamente enterrados com seus militantes perseguidos e mortos pelos militares.

Fruto e símbolo do engajamento do Sindipetro-LP na luta pela redemocratização, o 1º de Maio de 1984 em Santos foi marcado por um ato público na sede de nossa entidade, no qual estavam presentes personalidades políticas importantes do campo democrático. Dentre eles, Lula e Brizola.

No meio desse turbilhão, o Sindicato conseguiu que os aposentados parassem de deixar 60% das indenizações que recebiam nas mãos da Petros. Rapidamente, o benefício foi estendido para todo o Sistema Petrobrás.

Derrotada no mesmo ano de 1984, as “Diretas já!” desaguaram na redemocratização, ainda em 1985. As praças santistas foram tomadas pelo povo e uma memorável campanha, em 1986, atingiu todo o território nacional. Foi a greve nacional contra o arrocho salarial, onde os petroleiros assumiram o controle da RPBC e reduziram a produção em 21%. No TEBAR, em São Sebastião, os petroleiros sustentaram uma paralisação de 12 horas, desconectando os mangotes dos navios atracados e suspendendo o bombeamento de petróleo para os tanques.

Campanha salarial da categoria petroleira: “movimento parada de 1 hora”, realizado em nível nacional no dia 19 de setembro de 1986. Imagens da RPBC, Tebar e subsede do Sindicato.

Fragmento ao mesmo tempo pessoal e coletivo da consciência de classe que marcava aqueles tempos, em 1986 o petroleiro Manoel Francisco dos Santos enviou essa carta aos seus colegas de trabalho da RPBC.

Nova República

A Nova República tornou-se decepção para os trabalhadores. Em 10 de março de 1987, a categoria participou de uma vigília nacional, reivindicando reposição salarial. Todas as refinarias foram ocupadas. Na RPBC, a categoria foi duramente reprimida pelo Exército. Edson Satochi relembrou a tensão entre trabalhadores e militares.

No último ano da gestão de Pedro Sampaio, 1988, mais uma vigília por salários foi organizada e, mesmo sem afetar a produção, foi reprimida pela direção da empresa com a punição de mais de 200 petroleiros. Imediatamente foi deflagrada pelo Sindicato a chamada “Operação Padrão”. A Petrobrás não só manteve o silêncio quanto às reivindicações, como atendeu a um decreto governamental, exigido pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), congelando a URP por dois meses. A resposta foi uma greve! O resultado, represália. Foram 24 petroleiros advertidos, seis suspensos e 41 demitidos em todo o país. A luta foi intensa.

Em junho de 1988, Geraldo Silvino assume a presidência do Sindicato. Regresso da clandestinidade, ele surge para terminar sua gestão, interrompida em 1964 pelos militares. Na opinião de Edson Satochi, que naquele período se alinhava ao novo sindicalismo cutista, Silvino já não era o mesmo dirigente que conduziu o sindicato na época em que Santos era a cidade vermelha.

Ainda em 1989, uma paralisação de 12 horas pede reajuste salarial. Enfraquecidos, os sindicatos espalhados pelo Brasil logo pereceram e o Sindipetro-LP é o último a encerrar a paralisação. Saldo: 84% de aumento médio e abono de 30,51%, além da não punição aos que aderiram à greve.

Acompanhando o desenrolar daquela luta, o jornal A Tribuna repercutia uma campanha difícil para a categoria.

A última década do século XX anunciava profundas transformações no cenário mundial, entre elas a queda do Mundo de Berlim e uma pseudo-derrota da alternativa comunista. No Brasil, as primeiras eleições presidenciais, depois de quase 30 anos, elegeram Fernando Collor, com pouca diferença para o candidato do PT, Lula. Com a direita vitoriosa e o projeto neoliberal em franca ascensão pelo mundo, os horizontes eram de muita luta e resistência para os trabalhadores.

ANOS 1950
Nos anos 1940, a luta pelo petróleo se acirra; nos anos 1950, a vitória se consolida
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ANOS 1960
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ANOS 1980
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"Fim da história"? Dos governos de esquerda ao neofascismo, o século 21 em disputa
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