Quem defende as laranjas da Cutrale?

Um apanhado de textos para entender as notícias de ontem sobre os sem-terra nos laranjaisJornal Nacional, Jornal da Band, Jornal da Record, Ana Maria Braga. Todos exibiam ontem, dia 7 de outubro, o curto vídeo de um trator derrubando pés de laranja em uma fazenda.A versão dos jornais: eram os sem-terra, mais uma vez, depredando a propriedade privada, destruindo terras produtivas, roubando, saqueando, invadindo. Neste caso, os extensos 2,7 mil hectares de laranjas plantadas pela Cutrale, a maior indústria de suco de laranja do mundo.Contudo, as matérias omitiam, em maior ou menor grau, informações fundamentais sobre o significado daquelas imagens registradas por helicóptero e do conjunto de acontecimentos que envolviam a situação.É neste contexto que sugerimos a leitura urgente da nota pública emitida ontem pelo Movimento. Ela esclarece a situação da terra e das mobilizações realizadas na fazenda e joga luz à principal denúncia feita contra a empresa, responsável por 30% da produção mundial de laranjas: as terras eram griladas. A plantação é ilegal. As terras não são da Cutrale.E, frente a este descalabro histórico da grilagem de terras brasileiras ( leia o livro Movimento camponês rebelde", de Carlos Alberto Feliciano, página 134, disponível no Google Books) , boa parte do Congresso e quase a totalidade da imprensa se posicionaram a favor dos grandes exploradores. Como conclui Gilmar Mauro no artigo publicado hoje As laranjas e o show, "é nos conflitos que se diferencia homens de ratos, ou, laranjas de homens".*passe o mouse pelo texto em busca de links para outros artigosNOTA PÚBLICACutrale usa terras griladas em São Paulo6 de outubro de 2009Cerca de 250 famílias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) permanecem acampadas desde a semana passada (28/09), na fazenda Capim, que abrange os municípios de Iaras, Lençóis Paulista e Borebi, região central do Estado de São Paulo. A área possui mais de 2,7 mil hectares, utilizadas ilegalmente pela Sucocítrico Cutrale para a monocultura de laranja - o que demonstra o aumento da concentração de terras no país, como apontou recentemente o censo agropecuário do IBGE.A área da fazenda Capim faz parte do chamado Núcleo Monções, um complexo de 30 mil hectares divididos em várias fazendas e de posse legal da União. É nessa região que está localizada a fazenda da Cutrale, e onde estão localizadas cerca de 10 mil hectares de terras públicas reconhecidas oficialmente como devolutas, além de 15 mil hectares de terras improdutivas.A ocupação tem como objetivo denunciar que a empresa está sediada em terras do governo federal, ou seja, são terras da União utilizadas de forma irregular pela produtora de sucos. Além disso, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) já teria se manifestado em relação ao conhecimento de que as terras são realmente da União, deacordo com representantes dos Sem Terra em Iaras.Como forma de legitimar a grilagem, a Cutrale realizou irregularmente o plantio de laranja em terras da União. A produtividade da área não pode esconder que a Cutrale grilou terras públicas, que estão sendo utilizadas de forma ilegal, sendo que, neste caso, a laranja é o símbolo da irregularidade. A derrubada dos pés de laranja pretende questionar agrilagem de terras públicas, uma prática comum feita por grandes empresas monocultoras em terras brasileiras como a Aracruz (ES), Stora Enzo (RS), entre outras.O local já foi ocupado diversas vezes, no intuito de denunciar a ação ilegal de grilagem da Cutrale. Além da utilização indevida das terras, a empresa está sendo investigada pelo Ministério Público do Estado de São Paulo pela formação de cartel no ramo da produção de sucos, prejudicando assim os pequenos produtores. A empresa também já foi autuada inúmeras vezes por causar impactos ao ecossistema, poluindo o meio ambiente ao despejar esgoto sem tratamento em diversos rios. No entanto, nenhuma atitude foi tomada em relação a esta questão.Há um pedido de reintegração de posse, no entanto as famílias deverão permanecer na fazenda até que seja marcada uma reunião com o superintendente do Incra, assim exigindo que as terras griladas sejam destinadas para a Reforma Agrária. Com isso, cerca de 400 famílias acampadas seriam assentadas na região. Há hoje, em todo o estado de SãoPaulo, 1,6 mil famílias acampadas lutando pela terra. No Brasil, são 90 mil famílias vivendo embaixo de lonas pretas.Direção Estadual do MST-SP