Protestos param rodovia Cônego Domênico Rangoni

A partir de uma ação coordenada pelos movimentos sociais contra os impactos que a crise econômica gerou na vida dos trabalhadores, motivando mais de 800 mil demissões e reduções salariais, a manhã de hoje, dia 14 de agosto, nasceu rebelde em todo país. Na região, a rodovia Cônego Domênico Rangoni (antiga Piaçaguera-Guarujá) foi interditada das 5h30 às 7 horas, na altura do Km 267, pólo petroquímico de Cubatão, por cerca de 100 manifestantes, entre eles sindicalistas (petroleiros, metalúrgicos, professores e servidores públicos), estudantes e integrantes do Movimento dos Sem Terra (MST).Em ação sincronizada, a Refinaria Presidente Bernardes de Cubatão (RPBC - Petrobrás) também foi paralisada na entrada das empresas terceirizadas, localizada na rodovia, e portão principal - acesso aos petroleiros e petroleiras diretos.Quando o campo e a cidade se unir, a burguseia não vai resistir!". Rima simples. Luta complexa e dura. Para variar, a polícia, usando instrumentos classificados como de tortura pela Anistia Internacional, caso do spray de pimenta, abusa da truculência e aos chutes e empurrões retira os manifestantes da rodovia - a essa hora com mais de 5 quilômetros de congestionamento.Sem abatimento, o grupo segue em direção ao portão de entrada dos trabalhadores terceirizados da RPBC. O ato não termina: há um outro contingente de manifestantes lá. A polícia acompanha "educadamente" os manifestantes até a RPBC. "Sai do nosso pé carrapato!", pensou um. Não teve muito tempo, pois logo depois de atravessarem o Rio Cubatão a concentração de terceirizados na entrada da refinaria fez com todos renovassem os ânimos. Pensar era bobagem. Para lá de 1 mil terceirizados parados, quase tomando as duas faixas da Cônego Domênico Rangoni e provocando lentidão no trânsito.Fora Sarney!Além das consequências da crise, a qual os manifestantes reivindicam ser do patrão e não do trabalhador, as falas das lideranças ressaltaram outros episódios, tristes, por sinal, da política nacional."O trabalhador é punido se faz parte de movimento, descontado se chega cinco minutos atrasado e até demitido se comete algum erro. O Sarney dá emprego para o namorado da neta, comete uma série de sacanagens com o país e não é punido. É hora de dar um basta!", protestou o coordenador-geral do Sindipetro-LP, Ademir Gomes Parrela.Já Flávio Saraiva, presidente do Sindicato dos Servidores Públicos de Santos, tentou explicar a origem da atual crise e junto com Parrela engrossou o pedido de Fora Sarney! "O capitalismo entrou em crise, e isso é da natureza dele, por conta da concorrência entre as empresas. O governo, o mesmo que defende o Sarney, deu dinheiro para que os patrões demitissem os trabalhadores. Foram bilhões de dólares no mundo inteiro", frisou.Florêncio Rezende de Sá, o Sassá, vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, ressaltou em sua fala que a crise atinge todos os setores. "A Usiminas demitiu 90 mil trabalhadores", informou. Em outras categorias, segundo Sassá e outros dirigentes sindicais, reajustes salariais mantiveram as perdas e a punição, principalmente na Petrobrás, é a forma encontrada para manter os trabalhadores afastados dos movimentos."Por isso precisamos ter muita coragem para fazer nossos protestos, denunciar o que está errado", apontou a dirigente do MST, Erica Aparecida da Silveira.Terceirizados e redução da jornadaAs bandeiras de lutas do movimento não paravam de se perfilar a cada fala. "Neste ato é impossível não dizer o que os terceirizados sofrem na Petrobrás. São mais de 270 mil ", lembrou o diretor do Sindipetro-LP, Marcelo Juvenal Vasco. José Eduardo Galvão, também dirigente do Sindipetro-LP, frisou que a maioria das mortes na empresa são de terceirizados.Para Sassá é uma situação insustentável. "As terceirizadas enchem os bolsos na Petrobrás e depois vão embora deixando os trabalhadores sem direitos e emprego". A defesa apresentada na paralisação é a primeirização imediata de todos estes trabalhadores, ou seja, acabar com as "gatas" (empresas terceirizadas).Uma das saídas apontadas pelos sindicalistas para parte dos problemas que envolvem a crise é a redução da jornada de trabalho - atualmente de 44 horas semanais, mas na espera da Câmara dos Deputados reduzir para 40 horas (o ideal, para o movimento sindical, são 36 horas). "Essa é a saída classista, ao invés de despejar dinheiro nas contas dos patrões", explica Juvenal.Durante todo o ato a campanha "O Petróleo tem que ser Nosso!" foi lembrada em faixas e discursos como condição essencial para a construção de um país mais justo e soberano."