Vazamento de óleo na operação STS demonstra que omissão da gestão anterior persiste na Transpetro

Tebar

No dia 9 de janeiro deste ano, durante operação ship to ship no píer do Terminal de São Sebastião (Tebar), ocorreu vazamento de petróleo na conexão flangeada entre os mangotes conectados dos navios NT Milton Santos e Eagle Colatina. O vazamento atingiu a superfície da água, tendo “uma pequena parte ultrapassado a barreira de contenção”.

Após três meses do ocorrido, a Transpetro apresentou um relatório em que omite as verdadeiras causas básicas, que são muito mais profundas do que o apontado na análise técnica das ocorrências e causas diretas do acidente, pois não aborda aspectos administrativos básicos falhos. 

Entre as causas básicas, a empresa destaca o reaproveitamento de juntas, que após utilização em mais de uma conexão flangeada, perdem suas propriedades de vedação, permitindo a perda de contenção. Além disso, outra causa identificada foi a não realização do teste de estanqueidade, fundamental para a prevenção de acidentes. 

Diante do descaso da gestão do terminal, que permitiu o reaproveitamento de equipamentos, a recomendação no relatório estabelece como precaução a fiscalização para garantir o uso de juntas novas nas conexões dos mangotes e manter um estoque mínimo de juntas, além de reforçar com as contratadas a necessidade de utilização de juntas novas. 

Para o Sindipetro-LP, a falha mais evidente no caso é a tentativa da empresa de reduzir custos e aumentar a margem de lucro. A Transpetro faz contratos com salários muito baixos, o que atrai trabalhadores e trabalhadoras pouco qualificados. Minimiza também gastos com equipamentos, por exemplo, na capacidade da balsa que transporta os mangotes, dentre outras formas de reduzir custos. Esse tipo de economia leva as empresas contratadas a economizarem também, reaproveitando materiais e não cumprindo suas obrigações contratuais.

Em segundo lugar, há uma falta de fiscalização adequada. Se a fiscalização fosse efetiva, a empresa contratada estaria cumprindo suas obrigações. Um exemplo disso é a dificuldade em realizar o teste de estanqueidade. As linhas são montadas fora do navio e transportadas em uma balsa muito pequena, o que impede que o teste seja feito corretamente. As linhas precisam ser enroladas na balsa, impossibilitando o teste de estanqueidade completo.

Essa economia com uma balsa menor inviabiliza o cumprimento adequado das obrigações contratuais e compromete a segurança das operações. Além da falha na fiscalização do contrato, a estrutura do contrato para economizar contribui para criar situações inseguras e aumentar os riscos de acidentes.

Os efetivos próprios e contratados são muito reduzidos, sendo outro fator que contribui para aumentar os riscos. A própria equipe de operadores que eram antigamente formada por quatro trabalhadores nos píeres, foi reduzida e nem participa mais das operações STS, que fica sob responsabilidade dos giaonts, que também possuem efetivo reduzido.

A falta de cobrança e a omissão das verdadeiras causas e responsáveis no relatório contribuem para que acidentes como o que ocorreu continuem acontecendo. Apesar de apontado como pequeno o vazamento, sabemos que para o meio ambiente e para os trabalhadores que contiveram o problema os riscos são muito maiores, pois sem corrigir a causa real do incidente, acidentes maiores podem não ser evitados.