Dia da Consciência Negra revela o melhor e o pior do brasileiro, quando o assunto é desigualdade e preconceito

Verdade inconveniente

O Dia da Consciência Negra, comemorado dia 20 de novembro é uma data para relembrar as lutas dos movimentos negros pelo fim da opressão provocada pela escravidão. A data refere-se à morte de Zumbi, importante líder do Quilombo dos Palmares.
Apesar de a data presentear com folga os trabalhadores de estados e municípios que estipulam o dia como feriado, é, como em todos os anos são, dia de se ler e ouvir frases como “devia ser dia da consciência humana”, ou, a mais famosa citação, por ter partido de um famoso homem negro, o ator americano Morgan Freeman, que há 15 anos disse em uma entrevista que “para se combater o racismo, é melhor não falar dele”, dentre outro absurdos travestidos de consciência social. Morgan Freeman já desdisse o que falou na entrevista e após as manifestações do “Black Lives Matter”, incentiva em suas redes que os negros relatem sobre os casos de racismo que sofreram.

Para além das comparações, do botar o dedo na ferida da sociedade, que se estruturou formulando preconceitos, a data deveria servir de afirmação do povo negro, de fortalecimento de sua moral e reconhecimento do quão importante foi para o desenvolvimento da civilização. Também é momento de cobrar reparações históricas, que se refletem na desigualdade do país, onde a população negra é a mais prejudicada.  Todos os dias somos assombrados pela questão racial no Brasil: o índice de homens negros encarcerados é muito maior do que o de brancos, (67,8% dos presos são pretos); também são os negros que mais morrem pela violência urbana e policial. Conforme destacado no 16º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública em 2022, a população negra figura como a principal parcela afetada pelos crimes violentos no Brasil. Este grupo representa expressivos 78% das vítimas nos casos de homicídio doloso, lesão corporal seguida de morte, óbitos decorrentes de intervenção policial, entre outros; a falta de representatividade na política, na grande mídia e até mesmo em atuações na TV, cinema, onde geralmente são oferecidos personagens estereotipados, que reforçam preconceitos. 

Os negros ainda são maioria em subempregos e ou em funções de risco, onde o [índice de morte também é grande, como no caso dos motoboys. Essa categoria está entre as que mais são vítima de acidentes e por conseqüência, são os que mais doam órgãos. Uma pesquisa realizada em hospitais públicos no Espírito Santo revelou que mais de 60% dos doadores eram indivíduos de origem negra. Contrariando essa estatística, de acordo com um levantamento de 2007 da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos, as pessoas negras lideram as estatísticas de óbitos por doenças cardíacas. No entanto, curiosamente, representam apenas 10% dos receptores de transplantes cardíacos.

Quando o recorte é sobre as mulheres negras, a disparidade é ainda maior. Ser uma mulher negra no Brasil é enfrentar desafios únicos devido ao peso histórico do racismo e do machismo, que contribuem para um sistema discriminatório. Pesquisas indicam desigualdades, como a presença de três homens brancos para cada mulher negra em cargos de ensino superior. No cenário do feminicídio, dados apontam que duas em cada três vítimas são mulheres negras. Além disso, mulheres negras frequentemente lidam com a sexualização, padrões de beleza discriminatórios e outros obstáculos. Essas questões são apenas algumas das complexidades enfrentadas por mulheres negras no Brasil. As lutas feministas devem considerar essas realidades, que afetam não apenas emocional, psicológica e fisicamente, mas também incluem a sexualização e a imposição de padrões de beleza injustos.

Para os negros é preciso ser duas vezes melhor para se tornar alguém de destaque e mesmo chegando lá, sua capacidade será questionada. “Como fazer duas vezes melhor, se você tá pelo menos cem vezes atrasado pela escravidão, pela história, pelo preconceito, pelos traumas, pelas psicoses”, já diziam os Racionais MC’s no clássico “A vida é um desafio”. 

Mas apesar de todas essas informações serem pesadas demais para digerir em apenas um dia de conscientização, são questões enfrentadas pelas pessoas negras do país desde cedo, tendo que lidar ainda na infância com casos de racismo, que ou as embrutecem e mais uma vez as estigmatizam por se imporem contra o preconceito, ou as tornam apáticas, incapazes de assumir que são tratadas diferentes. 

Para enfrentar o racismo é preciso falar sobre, denunciar os atos preconceituosos sofridos e exigir punição aos infratores, que muitas vezes se safam da justiça apelando para problemas de cognição ou saúde mental. Mas mais do que isso, é preciso aumentar a participação dos negros, seja por cotas, seja por ações que estimulem a ascensão dos negros em cargos e funções de destaque e principalmente, acabando com a desigualdade que mantém castas em um país rico, racista e desigual.

O Sindipetro-LP reconhece a importância do Dia da Consciência Negra e se soma a luta por igualdade, reconhecimento e valor que a população negra do Brasil merece.