Pesquisadores apontam modelos para reconstrução da Petrobrás e transição energética voltadas ao povo brasileiro

Painel

Gustavo Machado (Ilaese) e Eric Gil Dantas (Ibeps) criticam paradigma capitalista de mudança de matriz de energia e comentam impactos recente das privatizações no Norte e Nordeste; Comunicadores do Observatório Social do Petróleo lançam campanha de financiamento coletivo

O 2° dia (07/07) do XIV Congresso da Federação Nacional dos Petroleiros (FNP) se encerrou com o painel “Petrobrás para os Brasileiros: Reconstrução, volta ao Norte e Nordeste e transição energética”, apresentado pelos pesquisadores Gustavo Machado, do Instituto Latino-Americano de Estudos Socioeconômicos (Ilaese), e Eric Gil Dantas, do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (Ibeps).

Machado abriu sua intervenção destacando que existe um mito sobre a “energia limpa”, uma vez que a atividade humana gera essencialmente impactos diretos no meio ambiente.

“A maioria das empresas quererem outra coisa com esse discurso. Quando se fala na mudança para os carros elétricos, por exemplo, isso não tem nada a ver com a questão ambiental, mas sim com a perspectiva da utilização de carros autônomos, porque o carro mecânico não pode ser controlado por um software”, explicou.

O pesquisador do Ilaese apresentou um quadro sobre a matriz energética no mundo de 2000 a 2021 e demonstrou como a energia renovável de fato é “mais barata”, porque exige um investimento inicial maior, como na construção de uma usina hidrelétrica, mas que se paga a longo prazo, tornando a produção mais em conta se comparada à extração de petróleo.

A matriz renovável no Brasil, porém, corresponde hoje a 45%, enquanto os combustíveis fósseis são responsáveis por 54% da produção de energia. “Até 2050, o petróleo continua sendo a energia dominante no mundo”, acrescentou Machado.

Ele explicou que o entrave de uma real transição energética a ser capitaneada pela Petrobrás está imbricada ao atual modelo de negócios da companhia, que segue pagando elevados dividendos aos seus acionistas – em 2022, segundo levantamento da gestora de recursos Janus Henderson, a Petrobrás distribuiu cerca de US$21,7 bilhões (R$ 112,4 bilhões, pelo câmbio de março de 2023) aos investidores privados.

“A contradição é que o mercado se move por lucro, não pela necessidade humana. Esse dinheiro está indo para o bolso dos acionistas ao invés de financiar a mudança energética no Brasil. A mudança não vai acontecer sem mudar essa lógica”, comentou.

Gustavo Machado ainda tratou da exploração da Margem Equatorial – localizada no Norte do país, entre os estados do Amapá e Rio Grande do Norte –, que, segundo ele, carece de estudos independentes de impacto ambiental de área sedimentar, os quais deveriam ser exigência dos movimentos sociais.

Caso haja viabilidade de exploração, outra consigna deveria ser a realização integral por parte da Petrobrás. “Tudo isso deve ser feito sem desconsiderar o problema ambiental, que tem consequências profundas à classe trabalhadora”, concluiu.

Impactos da saída da Petrobrás no Norte e Nordeste

O pesquisador do Ibeps, Eric Gil Dantas, destacou que o avanço das empresas estrangeiras na produção de petróleo e gás dentro do país segue crescendo. Em 2022, pela primeira vez na história, a Petrobrás teve participação abaixo dos 70%.

Os 28 ativos privatizados do Nordeste, por apenas R$ 81 bilhões, são parte dessa caracterização e impactam diretamente a realidade das populações locais.

Se a diminuição total no número de trabalhadores no Sistema Petrobrás representa 41% com as privatizações, somente no Nordeste o encolhimento dos postos de trabalho chega a 77%.

“Qual é o problema? Menos trabalhadores e menores salários. É um efeito direto para as populações que vivem nesses estados, porque a Petrobrás emprega mais e paga melhores salários, conforme observamos em estudo feito no Observatório Social do Petróleo”, disse Gil Dantas.

Ele ainda relembra que as refinarias privatizadas não conseguem competir com a Petrobrás e estão solicitando à estatal a venda petróleo mais barato para elas. “Sequer conseguem manter a oferta do seu produto”, acrescentou.

Essa aberração também se evidencia no Norte do país com a venda da Refinaria do Amazonas (REAM), que vem causando o encarecimento dos combustíveis e derivados, como é o caso do gás liquefeito de petróleo (GLP).

Segundo Gil Dantas, a Petrobrás chega a vender o botijão 31% mais barato do que a REAM. “Dentre os efeitos das privatizações de refinarias, está a constituição de monopólios privados nas regiões Norte e Nordeste do Brasil. Cada um real de aumento do preço do GLP é muito sensível e faz com que milhões de pessoas deixem de consumir”, acentuou.

A hibernação e posterior arrendamento das Fábricas de Fertilizantes Nitrogenados (Fafen) na Bahia e de Sergipe também foram criticados pelo pesquisador.

“A Petrobrás tem que voltar para o Norte e Nordeste para gerar mais e melhores empregos, investir produtivamente, retomar a produção de fertilizantes nitrogenados e vender combustíveis a preços menores”, conclui Gil Dantas.

Observatório Social do Petróleo

Após a exposição e fértil debate entre os pesquisadores e congressistas, os comunicadores Leandro Olímpio e Júlia Gabriela apresentaram ao público alguns dados e ações realizadas pelo Observatório Social do Petróleo, entidade sem fins lucrativos criada pela Federação Nacional dos Petroleiros (FNP).

Em nome do Observatório, a dupla lançou oficialmente o projeto de financiamento coletivo recorrente “Petrobrás para os brasileiros”, que visa ampliar o alcance dos estudos e análises da principal iniciativa de comunicação responsável por furar o bloqueio da imprensa tradicional na cobertura do setor de óleo e gás nos últimos anos, com uma visão crítica à gestão liberal e bolsonarista na Petrobrás.

O valor arrecadado na campanha será destinado à produção de novos produtos e ações de marketing digital do Observatório Social do Petróleo, como calendário de lives com convidados, atividades externas com mídias físicas e anúncios nas mídias sociais, como Google Ads, Instagram e Facebook Ads.

Faça parte do financiamento coletivo “Petrobrás para os brasileiros”!

Colabore e ajude a manter esse importante instrumento de comunicação da categoria petroleira e do povo brasileiro.

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Texto: Ênio Lourenço

Foto: Eliane Mendonça