Incêndio na Vila Socó completa 39 anos, mas tragédias como essa continuam acontecendo

500 mortos

Há 39 anos, no dia 24 de fevereiro de 1984 um incêndio sem precedentes na história do país atingiu a Vila Socó (hoje Vila São José), em Cubatão. O incêndio foi causado por vazamento de combustíveis de oleodutos que ligavam a Refinaria Presidente Bernardes de Cubatão (RPBC) ao terminal portuário da Alemoa.
Famílias inteiras foram surpreendidas pelas chamas que se alastraram entre as moradias de madeira enquanto muitos já dormiam. O número de mortos (93 corpos encontrados) é até hoje contestado por moradores e entidades formadas a partir do desastre e que representam as famílias, que estimam que mais de 500 pessoas morreram no incêndio.

De acordo com a investigação de órgãos a época, o vazamento ocorreu durante a transferência de combustíveis por uma tubulação que não suportou a sobrepressão, que rompeu o duto, espalhando cerca de 700 mil litros de gasolina pelo mangue.

Relatos da época dizem que alguns moradores armazenaram em suas casas garrafas com gasolina, que acabaram contribuindo para que o incêndio ficasse fora de controle. O produto se espalhou sob as palafitas com a movimentação das marés e cerca de duas horas depois do vazamento, aconteceu a ignição seguida de incêndio. O fogo se alastrou por toda a área alagadiça superficialmente coberta pela gasolina, incendiando as moradias de madeira.

A lembrança do desastre na Vila Socó, por mais que seja dolorosa para as famílias que sobreviveram ao incêndio, serve de alerta para que a segurança na área industrial seja redobrada, nunca descuidada. Não é exagero afirmar que outros acidentes iguais ou maiores do que o da Vila Socó só não aconteceram devido a resposta rápida da operação e do setor de SMS da RPBC.
Infelizmente, vemos um retrocesso na segurança de processo e segurança industrial da Petrobrás, que vem sistematicamente fechando postos de trabalho da operação, da segurança patrimonial e do efetivo de manutenção em todas as suas unidades, acendendo o alerta para possíveis desastres.

O problema de baixo efetivo é antigo, mas vem se agravando ano após ano e se aprofundou no último governo graças à política da alta cúpula da Petrobrás que sempre colocou o lucro acima das vidas. A conta de tamanho descaso ocorrido nos últimos quatro anos é o número expressivo de acidentes, mortes e danos ambientais. No início do ano passado, três petroleiros terceirizados morreram vítimas dessa conduta. Tudo isso fruto de uma política que mirava a privatização da empresa. 

Há um déficit no quadro operacional pelos mais variados motivos, que vão desde os desligamentos via aposentadoria e PIDV; afastamentos diversos, até transferências de trabalhadores para outras unidades da empresa, sem permuta, ocasionando uma vacância nos grupos de operadores.

A Unidade de Tratamento de Gás Monteiro Lobato (UTGCA), em Caraguatatuba, vem sofrendo, a cada dia, com a redução drástica do efetivo operacional. A situação é grave e mesmo assim, a unidade segue sem qualquer planejamento de efetivo. Isso é uma clara violação às disposições previstas na NR-20 no que diz respeito à segurança do processo.

A RPBC, os terminais da Alemoa, Pilões e Tebar e as unidades offshore  não passam ilesos e vêm operando com riscos, pois a política de redução do efetivo também já chegou e se instalou nessas unidades.

A negligência à segurança, em nome do lucro, tem continua causando tragédias anunciadas em todo o Brasil. Os crimes ambientais causados pela Vale em Brumadinho e Mariana reforçam a necessidade de se investir mais em segurança para se evitar e prevenir que outras tragédias aconteçam. O incêndio na Ultracargo em 2015, que demorou sete dias para ser contido e o vazamento de gases tóxicos da Localfrio, que levou mais de 170 pessoas ao hospital por intoxicação, também são exemplos que merecem destaque.