Escolhido para Conselho disse que Petrobrás foi “saqueada” por “interesses estrangeiros”

Mudança

“O petróleo não é mais nosso”, “a Petrobrás virou uma empresa gringa”, “foi saqueada pelos interesses estrangeiros”. As frases são do engenheiro e economista Eduardo Moreira, escolhido para assumir uma das seis cadeiras do governo Lula (PT) no Conselho de Administração da Petrobras.

Com mais de meio milhão de seguidores no Instagram e quase 900 mil inscritos em seu canal de Youtube, o influencer tem ideias de esquerda e apoiou a eleição do presidente Lula.

Ele foi um dos três nomes confirmados por interlocutores de Jean Paul Prates à CNN que vão compor a lista que será enviada pelo Ministério de Minas e Energia ao departamento de compliance da Petrobras.

Em um dos vídeos de seu canal, no dia 6 de maio, Moreira criticou a grande parcela de investidores estrangeiros que detém ações da Petrobras. Hoje são 46,3% das ações nas mãos de pessoas e empresas de fora do Brasil.

“Não dá nem mais pra chamar a Petrobras de uma empresa brasileira. A Petrobrás virou uma empresa gringa, mas ninguém percebeu. Porque a panela foi esquentando e o sapo ali dentro não percebeu que a água estava fervendo”, disse Moreira.

“Hoje em dia a empresa foi privatizada. A empresa mais do que privatizada, ela foi saqueada pelos interesses estrangeiros, e ninguém percebeu”, completou o economista.

Moreira também é crítico do repasse dos megadividendos aos acionistas, em detrimento de um valor maior de investimento. A crítica se assemelha à de setores do PT, vocalizados pela presidente do partido, Gleisi Hoffmann que chamou o pagamento bilionário aos acionistas de sangria que ‘só enriquece acionistas’.

Sobre isso, em 4 novembro, Moreira disse em seu canal. “O que a Petrobras está fazendo? Ela tá servindo ao seu país gerando emprego, gerando oportunidade, gerando desenvolvimento? Não. Ela virou o seguinte, virou uma saqueadora pra servir uma meia-dúzia”.

Na época, ao que se sabe, o nome dele ainda não estava sendo cotado para assumir uma cadeira no conselho. Ainda assim, ele sugeriu que era preciso reverter o ‘desmonte’ da estatal.

“Isso que a Petrobrás faz de não investir o dinheiro na sua modernização, no seu país, é um processo programado, planejado, estratégico de desmonte, e agora você entende por que a gente fala de destruição, pra beneficiar meia dúzia de pessoas, e é isso que a gente vai ter que reverter”, afirmou no mesmo vídeo.

Eduardo Moreira é formado em engenharia pela PUC do Rio de Janeiro e estudou economia na Universidade da Califórnia de San Diego. Ele trabalhou no Banco Pactual até 2009 onde afirma ter sido sócio responsável pela área de Tesouraria.

Crítico ferrenho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o influencer defende que uma estatal não seja avaliada pelo lucro, mas pela capacidade de transformação social com geração de emprego, pesquisa e desenvolvimento.

“Isso que aconteceu com a Petrobras é o último capítulo, eu espero, de um período nefasto, de um período vergonhoso, de um período onde as aves de rapina da Faria Lima se lambuzaram com aquilo que é nosso, com aquilo que é de todo mundo”, afirmou ainda o escolhido para o conselho.

Para pessoas ligadas à Petrobras  o nome de Moreira sinaliza uma transformação na condução da empresa, até pelo fato de o discurso do economista ser mais radical do que o do próprio presidente da companhia Jean Paul Prates.

A mudança na política de dividendos, defendida por Moreira e por setores do PT, é vista como um desafio porque pode ser mal recebida pelo mercado e derrubar o preço das ações da companhia, provocando uma desvalorização da empresa.

Essa, no entanto, não é uma das prioridades que aparecem no discurso de Prates. Ele prefere priorizar a mudança da política de preços da estatal, a suspensão da venda de refinarias e a guinada para a produção de combustível mais sustentável.

Conselheiros dos acionistas minoritários ainda se mostram céticos sobre o futuro da estatal, mas elogiaram as primeiras escolhas de Prates que, além de Moreira, também definiu que indicará ao colegiado o presidente da Fiesp, Josué Gomes, e a professora da UFRJ Suzana Khan.

Fonte: CNN