20 de novembro, Dia da Consciência Negra: Pouco para se comemorar e muito ainda para se lutar!

Dia 20 de Novembro

Neste dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, pouco há para se comemorar. Segundo o IBGE 56% da população brasileira é negra. Apesar de ser uma maioria no país, não encontramos na sociedade representatividade na política, nos altos cargos empresariais, nos canais abertos da TV brasileira, e salvo em novelas de época, os papeis delegados aos negros precisam ser escritos especificamente para esse perfil, reafirmando estereótipos que em pleno 2022 insistem em manter. Negro na TV ou é escravo, empregado, traficante, chofer, segurança, faxineira, empregada, ou alguma beldade feminina ou masculina, sexualizada ao extremo.

Recentemente o G1 publicou matéria em que aponta dados que o IBGE divulgou do relatório sobre estudo de Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil, em que aponta essa diferença. Considerando a linha de pobreza monetária proposta pelo Banco Mundial, a proporção de pessoas pobres no país era de 18,6% entre os brancos, 34,5% entre os pretos e 38,4% entre os pardos. 

Apesar disso, Para além da pobreza, a violência mantém os negros e pardos com o alvo nas costas. De acordo com o 16° Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado em meados deste ano, os casos de mortes pela polícia, apontam que 84% dos alvos são negros. O governo Bolsonaro se gabou durante a campanha eleitoral dizendo que o índice de mortes diminuiu no Brasil. De fato, segundo o anuário, o índice em 2021 apresentou queda de 31% entre a população branca, mas cresceu 5,8% entre os negros, em comparação ao ano anterior. 

No Sistema Petrobrás também é gritante a diferença proporcional de empregados brancos e negros. Em 2020 a empresa possuia 30,2% de trabalhadores negros. Desses, 3,67% ocupavam cargos gerenciais. Já as mulheres negras na empresa representam 0,37% dentre os empregados.

As mulheres negras, aliás, representam uma minoria ainda mais marginalizada, mesmo entre os negros e sofrem tanto com a pobreza, mas principalmente são as maiores vítimas de violência doméstica no Brasil.
Nos últimos anos no Brasil, o racismo foi escancarado a quem quisesse ver e ouvir, sempre seguido de desculpas lidas e histórico de alguma doença mental por parte dos agressores, geralmente pessoas brancas e ricas.

O racismo, e consequentemente a desigualdade no Brasil, é uma questão estrutural, que permeia as políticas públicas que não contemplam a reparação dos anos de extermínio e de tentativa de embranquecimento da sociedade, que bem pouco tempo atrás estampava editoriais de grandes jornais no país, como solução para “barrar a pobreza”. 

Seja pela caça a jovens negros de periferia, pela Polícia Militar, ou pela esterilização a força de mulheres em situação de rua, como retratado pelo The Intercept Brasil em matéria de 2018 (veja aqui), é fato que vivemos em um mundo e um país racista, que se mantém como está por falta de políticas de reparação da desigualdade. E quando algo como as leis de cotas em universidades públicas e privadas começam a dar algum resultado, o debate se volta pela fim dessas políticas, “pois já se passaram 10 anos e tão pouca coisa mudou”!

Embora maioria no Brasil, os negros são tratados como párias da sociedade e isso pode ser constatado tanto pelo breve histórico apresentado neste texto, como bastando olhar ao redor e procurar onde estão os negros e pardos nas relações de trabalho, na política, nos negócios.

O Dia da Consciência Negra, que para muitos deveria se chamar “Dia da Consciência Humana”, renegando até mesmo uma data no ano para o povo negro no Brasil, acontece no Dia Nacional de Zumbi dos Palmares e é uma data para reflexão dos problemas de nossa sociedade, para lembrar a todos que temos muito ainda para avançar antes de sermos realmente uma democracia, em que todos têm direitos e oportunidades iguais.