Superávit na Petrobás: Parlamentares aumentam pressão contra Silva e Luna e exigem explicações sobre dividendos

R$ 106 bilhões

Em linha com a crise internacional do petróleo causada pela guerra na Europa, resquícios da pandemia e lucros elevados da Petrobrás em 2021 (R$ 106 bilhões, sendo R$ 101,4 distribuídos em dividendos), a maior transferência de renda de sua história, o presidente da estatal, general Joaquim Silva e Luna, foi convocado a dar explicações à Comissão de Infraestrutura (CI) do Senado.

Os parlamentares querem explicações sobre os dividendos pagos aos acionistas no ano em que a petroleira teve lucro recorde puxado pela crise enquanto os preços nas bombas escalonavam. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), disse em coletiva  que a empresa deve explicações à sociedade brasileira sobre a alta no preço do diesel e da gasolina, que chegou a ultrapassar R$ 8 em alguns estados, no momento em que o dólar é negociado abaixo de R$ 5.

“A Petrobrás deve explicações à sociedade brasileira em relação a vários aspectos. Eu avaliava nesta manhã a questão do preço do barril do petróleo, a redução do câmbio sem que haja reflexo no combustível da refinaria, distribuidoras e dos postos de combustível. Então alguma coisa está errada e ela precisa ser esclarecida”, disse.

Pacheco ainda mencionou um dos projetos do "pacote de combustíveis" relatados pelo senador Jean Paul Prates (PT-RN) aprovados no Senado, o PL 1472, que cria uma conta de estabilização para amortecer o preço dos combustíveis com previsão de usar lucros extraordinários que União teria para receber da Petrobrás, como acionista majoritária.

O convite para o esclarecimento de Silva e Luna à CI partiu do senador Jean Paul Prates (PT-RN) — relator dos dois projetos do chamado pacote dos combustíveis. O general terá de explicar o pagamento aos acionistas do lucro bilionário da estatal no último ano. Segundo ele, a empresa deve definir critérios mais eficientes sobre a distribuição dos dividendos. "Mais de 90% dos lucros foram distribuídos diretamente aos acionistas. Queremos entender de onde vem o lucro de fato: se foi pela venda de ativos ou pelo lucro vindo do vento e do acaso, como por exemplo, o preço de commodities lá fora”, questionou.

Já o deputado e economista Enio Verri (PT-PR) explicou que, apesar das críticas da ala governista, é o presidente da República quem indica o nome para ser aprovado pelo Conselho de Administração, portanto, mantendo o PPI. “A política que eles escolheram faz os preços aumentarem, pois o petróleo está sujeito também a variação cambial. Agora temos uma guerra em curso, mas antes do conflito, já estava elevado devido à pandemia. Se tem uma variação cambial e a política de preço é essa, o preço sobe”, explicou.

“Se o presidente da República, que aprovou essa política de preço, indicou o presidente, aprovou parte do Conselho de Administração, diz que não tem influência sobre isso? Algumas pessoas podem acreditar, mas o mercado não”, criticou. Para ele, a possível saída de Silva e Luna é uma forma de ganhar tempo para as eleições.

“O papel da oposição é desde o começo denunciar o PPI. Temos feito isso desde 2016. A PPI é uma inversão do papel do estado, onde a prioridade é o sócio-privado, um espaço de especulação do mercado e não a população brasileira.

Em resposta ao deputado Enio Verri, Ganime disse que a Petrobrás serviu apenas aos interesses políticos, de altos funcionários e servidores e algumas pessoas indicadas politicamente na estatal para enriquecer e alimentar campanhas políticas. 

O deputado Geninho Zuliani (União Brasil-SP) disse que qualquer critica sobre a política de preços é legítima, principalmente por parte daqueles que são diretamente impactados. “As respostas aos questionamentos devem ser dadas para os verdadeiros e reais problemas, e não por questões ideológicas ou puramente políticas”, explicou.

“O alto preço dos combustíveis deriva de problemas sistêmicos. A indústria do petróleo é muito volátil, estando sujeita a diversos fatores que envolvem riscos, problemas políticos e geopolíticos e às vezes problemas da própria indústria. Natural que o Presidente da Petrobrás ou mesmo seus antecessores possam ser criticados ou até mesmo colocados como responsáveis. Em última instância, a culpa é do Ministro da Economia. Mas a situação experimentada, que é dramática, não pode ser reduzida à conduta de uma pessoa ou grupo de pessoas”, disse.

Fonte: Correio Braziliense