No Dia das Mulheres precisamos falar como contribuímos para os avanços e/ou estagnação dos direitos delas

8 de Março

Hoje, 8 de Março, Dia Internacional das Mulheres, gostaríamos de dar os parabéns à todas mulheres pelas conquistas, avanços e merecido reconhecimento na sociedade. No entanto, ainda hoje, pleno 2022, somos bombardeados por uma verdade inconveniente, a de que a sociedade falhou com as mulheres e os poucos avanços no quesito “igualdade de gênero” se resumem a um debate limitado sobre liberdade sexual, que só funciona na teoria, direito a igualdade salarial, que na prática ainda não é real, direito ao voto, com a limitação de opção por candidatos homens héteros e brancos, licença-maternidade e garantia de emprego durante a gestação, algo que o próprio presidente do país não se envergonha de achar “um peso para o patrão”, e mais alguns outros “direitos”, que se as mulheres não brigam por exercê-los, não passam de palavras no papel.

As palavras misóginas e machistas do deputado Arthur do Val de que as mulheres ucranianas “são fáceis porque são pobres” revoltou muita gente e levantou o debate sobre turismo sexual, que, mais uma vez, foi estimulado pelo presidente Jair Bolsonaro, quando em um café com jornalistas, em 2019, disse que o Brasil não poderia ser “um país do mundo gay, de turismo gay. Temos famílias.” Para em seguida acrescentar: “quem quiser vir aqui fazer sexo com uma mulher, fique à vontade”.

Em consequência da semana conturbada que tivemos por uma fala sexista de um deputado paulistano, o segundo mais votado do Estado de São Paulo, vimos que hoje, 8 de Março ao invés de flores e bombons, nas redes sociais, as mulheres amanheceram pedindo respeito e consideração durante todo ano e não somente em um dia do ano.

E para que esse desejo seja atendido, como sociedade, cidadãos e eleitores que somos, não podemos continuar aceitando falas machistas ou preconceituosas como “expressão da personalidade” de um candidato, mas como crime que realmente são. Não podemos recompensar políticos com histórico de misoginia e preconceito com o benefício da dúvida, de que tal fala foi dita em um momento de descontração entre amigos: “afinal, quem nunca disse algo parecido?”.

 Temos culpa sobre a morosidade dos avanços das mulheres, quanto a condições de salários igualitários, domínio sobre o próprio corpo e representatividade parlamentar, quando seguimos rindo de piadas machistas, quando aceitamos o assédio como parte do cotidiano, quando nos calamos diante de demonstrações de desrespeito às mulheres, quando discutimos sobre direitos das mulheres somente quando eles são colocados à prova publicamente, quando vemos ou interrompemos a fala de uma mulher sobre algo que ela tenha a dizer porque o que temos para dizer parece mais importante.

Precisamos, antes de tudo, reconhecer que falhamos enquanto sociedade por colocar no comando do país homens que se sentem no direito de acariciar os seios de uma parlamentar na frente de todos, por elegermos políticos que se valem da pobreza para continuarem sendo eleitos e que se aproveitam por serem bem sucedidos para assediar e tirar proveito das necessidades alheias, causadas por mantermos essas mesmas pessoas há tanto tempo no poder.

Este 8 de Março ganha um caráter imediatista, basta de machismo, chega de violência contra as mulheres, como bem disse  Rosa Luxemburgo: “Quando uma mulher avança, nenhum homem retrocede”.