Petrobrás é negligente com a vida dos petroleiros ao propor retorno ao trabalho presencial

Teletrabalho

“Estamos em um momento muito difícil. Teremos muitas mortes ainda, infelizmente. Teremos muitas pessoas adoecidas.” O alerta foi feito pela médica Maria Maeno, doutora em saúde pública e pesquisadora concursada da Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho, durante aula aberta transmitida nessa segunda-feira (31/05), no canal do youtube da FNP.

Na aula, a doutora apontou ainda os trabalhadores presenciais como alvos do vírus e considera a Covid-19 uma doença relacionada ao mundo do trabalho. “O trabalho presencial é privilegiado para o vírus se disseminar bastante com aglomerações e ambientes de uso comum”, afirmou a doutora.

Ainda assim, com tantos alarmes sobre o trabalho presencial, gestão da Petrobrás decidiu retorno gradual do trabalho presencial para funções administrativas, a partir de julho. Para piorar a situação, a medida ocorre sem nenhuma negociação com os sindicatos e, pior, na iminência de uma terceira onda da pandemia. 
Segundo o informe da empresa, o retorno será escalonado, com volta à atuação presencial de gerentes executivos, em julho; gerentes gerais, em agosto, e demais empregados em funções administrativas, em etapas, a partir de outubro, sem nenhuma preocupação com a proteção geral das pessoas, que faz com que haja uma negligência em relação aos trabalhadores.

" A direção da empresa infelizmente toma novamente uma medida que afetará a saúde de milhares de trabalhadores sem negociar ou apresentar qualquer critério aos sindicatos ou mesmo às CIPAs, afirma Tiago Amaro, diretor do Sindipetro-RJ.

Em comunicado emitido nessa segunda (31/05), a Petrobrás afirmou que fez adaptações em seus espaços físicos e áreas comuns e que segue acompanhando as orientações das autoridades sanitárias e aprimorando as medidas preventivas que buscam proteger a saúde das pessoas.

Mas, Moara Zanetti, diretora da FNP e do Sindipetro-RJ, alerta de que não há nenhuma evidência de que a direção da empresa adotará medidas básicas como a separação de estações de trabalho com telas de acrílico, aumento na frequência de limpeza, entre outros. “Um retorno forçará os trabalhadores a adotarem condições inseguras de trabalho. Eles disseram que fizeram alterações, porém não especificaram para os sindicatos essas mudanças”, criticou ela.

Além disso, segundo Tiago, os prédios da empresa não têm condições adequadas de ventilação. “Onde houve reforma de smart office, os espaços de estações de trabalho estão reduzidos e toda a lógica é compartilhar estações de trabalho, que é uma medida de risco em relação ao vírus”, contou.

Outro problema é que a empresa editou, recentemente, uma norma que acaba com os testes rápidos na entrada dos prédios. Ou seja, os trabalhadores entrarão nos prédios apenas com a exigência de se verificar a temperatura, que não é garantia de nada, já que nem todos os contaminados apresentam febre.

Por tudo isso e diante da lentidão na imunização e do surgimento de novas cepas do coronavírus, o momento deveria ser de aumentar as medidas de proteção na empresa, e não de retorno ao trabalho presencial. 

Vale destacar que o Programa Nacional de Imunização caminha a passos lentos, com menos de 20% da população imunizada com as duas doses da vacina. Especialistas apontam que, se continuar nesse ritmo, a imunização da população, que ainda não atingiu nem mesmo a totalidade dos grupos prioritários, não será concluída até o final do ano.

Assim, a antecipação do fim do home office vem sendo encarada como uma das metas do novo presidente da Petrobrás, o general Silva e Luna, que chegou com a missão de acabar com o trabalho remoto, para agradar ao presidente Jair Bolsonaro.

O fim do trabalho remoto neste momento não se justifica, já que, mesmo com boa parte dos trabalhadores em home office, a Petrobrás é, entre as estatais, a empresa com maior número de contaminados e mortes causadas pela Covid-19.

“É uma completa irresponsabilidade de expor desnecessariamente, em plena pandemia, um contingente de trabalhadores que pode exercer suas funções em teletrabalho”, afirmou Moara. 

A FNP vem lutando contra a gestão da empresa para reduzir o contingente em trabalho presencial, e denunciou em diversos momentos a omissão da direção da empresa com as medidas sanitárias, o que já custou vidas ao longo destes meses de pandemia. 

Inclusive, nesta terça-feira (01/06), a Federação Nacional enviou um ofício para a empresa, em que cobrou explicações e mais clareza sobre o planejamento de retorno do trabalho presencial. Agora, aguarda uma resposta da empresa. Leia aqui o ofício.
 
Na próxima sexta-feira (04/06), a direção da FNP e seus advogados vão se reunir para debater o tema e avaliar quais medidas jurídicas podem ser tomadas. Mais informações serão divulgadas em breve.

Fonte: FNP