Isolamento social não é opção, é necessidade contra avanço da Covid-19

Novo coronavírus

Em 6 de maio, data que encerramos essa matéria, o Brasil contabilizava 121.600 mil casos de coronavírus confirmados e 8.022 mortes oficiais, sendo 600 óbitos registrados nas últimas 24 horas. Porém, esses números sobem diariamente e sequer refletem os dados reais em virtude da reconhecida subnotificação. Segundo o Ministério da Saúde, nos próximos dias é possível que cheguemos à marca de mil mortes causadas por coronavírus por dia.

Graças ao isolamento social estabelecido em algumas partes do país, por determinação dos governos estaduais, o cenário de mortes não é ainda mais grave. Alguns estudos apontavam até um milhão de mortes no Brasil se nenhuma medida fosse tomada. Por outro lado, enquanto governos estaduais e municipais seguem - mesmo que parcialmente - as determinações da OMS, o presidente da república vai contra as orientações da OMS e do próprio Ministério da Saúde, convocando e participando de atos de rua golpistas, provocando aglomerações e questionando a gravidade do vírus.

Não por acaso, após seu pronunciamento em 24 de março, quando chamou a pandemia de “gripezinha”, o número de pessoas nas ruas aumentou, assim como os casos de infectados. Também são crescentes os casos de ataques físicos e morais a profissionais de saúde e jornalistas. A falta de ação do governo federal é demonstrada em números: dos R$ 120 bilhões que o congresso aprovou para o combate ao novo coronavírus, o governo só gastou 30%. Enquanto isso, cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, para citar os grandes centros, já estão com leitos e UTIs quase esgotados e carecem de equipamentos fundamentais como respiradores. Outro gargalo é a baixa quantidade de testes, uma das medidas mais eficientes no combate ao vírus.

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Grupos de risco
O Covid-19 é associado principalmente a pessoas idosas, porém, um estudo internacional, liderado por brasileiros, mostra que 48% dos casos registrados no primeiro mês da pandemia no Brasil foram de pessoas entre 20 e 39 anos. Desses, 10% precisaram de internação e respectivamente 15,9% precisaram de respirador mecânico. Com essa informação, cai por terra a teoria do isolamento vertical, que propõe que apenas idosos e pessoas com doenças pré-existentes, como diabetes, bronquite e outros fiquem em casa, enquanto os demais devam voltar à rotina de trabalho. Além disso, lembramos: quando retornam às suas casas, muitos jovens serão recebidos por seus avós e pais.

Se adotarmos o isolamento vertical haverá um boom da pandemia em São Paulo, com o consequente colapso no sistema de saúde e serviços funerários, como há mais de duas semanas acontece em Manaus. Diante dos fatos apresentados, sem nenhum medicamento ou vacina capaz de conter efetivamente o avanço do Covid-19, o isolamento social é o único método eficaz para conter o avanço da pandemia a um nível que o sistema de saúde possa se preparar.

Fakenews: H1N1 e dengue não são mais letais que Covid-19
Muitos dos que pregam o fim do isolamento social alegam que a dengue e a gripe suína (H1N1) mataram mais do que o Covid-19. Para efeito de comparação, nas primeiras 14 semanas de 2020, 180 pessoas morreram vítimas da dengue no país. Em 2019, ano que a doença no Brasil teve um aumento dos casos em 488%, 782 pessoas morreram de dengue. Vale lembrar que no Brasil as mortes por Covid-19 já ultrapassam os 7 mil casos, apenas 70 dias após o anúncio do primeiro caso confirmado.

A (H1N1), conhecida também como gripe suína, vitimou 2.098 pessoas, de 2009 a 2010. A Covid-19 superou a gripe suína 31 dias depois da confirmação do 1º óbito, em 17 de março, em São Paulo. Em todo mundo foram 18 mil mortes no mesmo período, segundo balanço da OMS. Na época do surto de H1N1, o Ministério da Saúde registrou quase 60 mil casos e pouco mais de 2 mil mortes no Brasil. De 2009 até agora foram cerca de 7.000 mortes.

Comparado ao Covid-19, o vírus influenza H1N1 apresentava menor nível de transmissão e menor letalidade. Favorável ao combate à H1N1, havia dois antivirais, um deles o Tamiflu, que se mostraram efetivos no combate à epidemia da gripe suína.

Quando a Covid-19 acabará?
O potencial do vírus depende muito do comportamento social diante de uma pandemia. Lavar as mãos constantemente, usar máscara e, o principal, manter o distanciamento são determinantes para se estabelecer avanço ou controle do vírus. Por isso, quanto maior o isolamento social, mais chances teremos de sair dessa crise em menor tempo e com menos mortes. No caminho inverso, sem responsabilidade coletiva, caminharemos pro sentido inverso: a adoção de lockdown (bloqueio total), como algumas regiões brasileiras já se viram forçadas a adotar. Maranhão é um exemplo.

As autoridades de saúde são muito cuidadosas sobre o período necessário para conter a pandemia, pois qualquer sinalização de que a doença está sob controle poderia provocar um afrouxamento dos cuidados necessários. Ainda assim, alguns que se arriscam ao trabalho de previsão, como a empresa Data-Driven Innovation Lab, de Singapura, dizem que no Brasil a Covid-19 atingiria seu ápice em maio e teria uma redução considerável no número de afetados (97%) somente em 06 de junho. O contágio seria zerado somente em 6 de setembro.

Embora seja uma previsão otimista, vale lembrar que a data se trata de uma simulação, com base nos dados oficiais do governo, que por mais de uma vez revelou que há subnotificação, o que pode alterar consideravelmente a previsão do fim da pandemia no país e volta da “normalidade”. Um outro estudo, feito por cinco pesquisadores da Universidade de Harvard, revela que até 2022 será necessário manter práticas de prevenção, inclusive distanciamento social.

Tirar dos super-ricos, apostar na solidariedade de classe
Se na pandemia os super-ricos já conspiram contra o necessário isolamento, sempre com a ajuda de governos que se recusam a investir recursos para que toda a população possa cumprir a quarentena, sabemos que após a pandemia banqueiros e financistas seguirão tentando colocar o lucro acima da vida. A uberização das relações de trabalho e os serviços home office, apesar de sua tintura moderna, se assemelham cada vez mais às degradantes condições de trabalho no início do século passado.

É para manter essa estrutura injusta e desigual intacta, favorecendo os interesses privados, que Jair Bolsonaro se recusa a adotar medidas efetivas para impedir o caos social. É preciso adotar um plano emergencial muito mais amplo, com ajuda econômica aos trabalhadores, pequenos e médios empresários, para impedir que empresas fechem as portas, demitam, retirem direitos e rebaixem salários. E, mais importante, para impedir que as famílias mais vulneráveis sejam forçadas a escolher entre morrer de fome ou de coronavírus. Taxando as grandes fortunas, de uma só vez arrecadamos cerca R$ 240 bilhões. Chegou a hora dos super-ricos darem sua contribuição!

Por isso, cabe a nós, trabalhadores, tomar as rédeas do futuro e lutar por uma sociedade igualitária. Não só por um mundo justo, mas por nossa sobrevivência enquanto espécie. Pela certeza de dias melhores, lembremos dos exemplos de solidariedade que se multiplicam onde o Estado se nega a atuar, como o próprio Sindipetro-LP vem desenvolvendo. Pela certeza da possibilidade de vitória, lembremos que somos bilhões contra uma meia dúzia de famílias multibilionárias que concentram a riqueza do mundo. Se há uma velha verdade que a pandemia escancara dramaticamente é que sem os trabalhadores nada funciona. Por nossa sobrevivência, trabalhadores, uni-vos (afastados)!