Petroleiros decidem aceitar demissões da Petrobrás

Fafen

Os trabalhadores da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados do Paraná (Fafen), subsidiária da Petrobrás na cidade de Araucária (PR), anunciaram que aceitarão o pacote de benefícios imposta pela gestão da estatal e pelo ministro do Tribunal Superior do Trabalho (TST) Ives Gandra. A decisão foi tomada após assembleia geral do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Petroquímicas do Estado do Paraná (Sindiquímica-PR).

Na prática, a fábrica será fechada e os funcionários serão dispensados, com alguns benefícios garantidos pela petroleira. Em fevereiro, a Petrobrás afirmou que o pacote foi oferecido a 396 funcionários e inclui verbas rescisórias legais, manutenção por 24 meses de plano médico e odontológico, benefício farmácia e auxílio educacional, além de uma assessoria especializada em recolocação profissional.

Apesar de aceitarem o pacote, os petroleiros lamentaram a decisão que tomaram, pois não havia margem para outras negociações. Em todo o período de greve, os trabalhadores queriam evitar o fechamento da fábrica e impedir a demissão em massa.

Para o dirigente jurídico do sindicato, Reginaldo Lopes, a votação foi dividida e trabalhadores “foram às lágrimas com a situação de desemprego”.

“Infelizmente, esta foi uma assembleia muito triste para nossa categoria e muito triste para os petroquímicos. Não foi uma decisão que expressou vontade da maioria da categoria. Viemos com proposta pronta do TST e não foi sob crivo da negociação, foi sob crivo da ameaça. Nosso próximo passo é orientar os trabalhadores e também cobrar da empresa aquelas propostas de auxiliar na recolocação dos trabalhadores que haviam prometido”, declarou.

O movimento grevista durou quase três semanas, com início em 1º de fevereiro, e envolveu 21 mil trabalhadores e 121 unidades do Sistema Petrobrás. Num cenário de privatizações, a atual gestão da Petrobras está se desfazendo da Araucária Nitrogenados S.A. (Ansa), que os petroleiros chamam pelo nome antigo, Fafen.

A Petrobrás comprou a Fafen em 2013, da mineradora Vale. A estatal alega que, desde então, a fábrica apresenta recorrentes prejuízos que já somam mais de 2 bilhões de reais. Para o fim de 2020, o resultado negativo poderia superar 400 milhões de reais, segundo a empresa.

A petrolífera, então, diz que esforçou-se para vender a fábrica, cujo processo de desinvestimento teve início há mais de dois anos. As negociações haviam avançado com a companhia russa Acron Group, mas a venda não foi efetivada. Agora, a Petrobras encerra as atividades da fábrica com a justificativa de falta de viabilidade econômica.

Mas a FUP rebate o argumento de que a Fafen dá prejuízos. Segundo a Federação, o fechamento da fábrica dará prejuízo maior, porque o Brasil terá de importar 100% dos fertilizantes nitrogenados que consome. Além disso, diz a FUP, o Brasil ficará dependente de um reagente químico produzido na fábrica, usado para reduzir a poluição ambiental produzida por veículos automotores pesados que usam diesel.

A organização sustenta ainda que o município de Araucária deve perder 75 milhões de reais em arrecadação. Além disso, os petroleiros dizem que a justificativa de prejuízo é falsa, porque a própria Petrobras produz e precifica a matéria-prima para gerar ureia e amônia na fábrica. A ureia e a amônia são compostos utilizados para a produção de fertilizantes nitrogenados.

Dessa forma, a Petrobrás, na verdade, criaria um pretexto para abandonar o setor de fertilizantes nitrogenados no Brasil, favorecendo multinacionais e importadores.

A Petrobrás está na mira da campanha privatizante da equipe econômica do presidente Jair Bolsonaro. Após a criação da Secretaria Especial de Desestatização, em 2019, o governo já vendeu a BR Distribuidora, a distribuidora Liquigás e a Transportadora Associada de Gás (TAG) – as três eram subsidiárias da Petrobras.

Também viraram alvo de Bolsonaro as companhias Correios, Telebras, Eletrobras, Casa da Moeda, entre outras empresas. Em agosto de 2019, o governo divulgou uma lista com 17 estatais federais que podem parar nas mãos do setor privado.

Fonte: carta Capital