A loucura estratégica da Petrobrás

Apagão gerencial

No caso da Petrobrás propaga-se, sem qualquer análise por essa mídia, que o plano é sair de todas as atividades “downstream”, ou seja, sequenciais à extração do óleo bruto, como transporte, refino, distribuição e petroquímica e se concentrar na extração de óleo cru. Isso é o contrário do que fazem as grandes empresas de petróleo do mundo.

1.A extração de óleo cru é o setor mais arriscado, mais volátil e mais especulativo da indústria de petróleo, pode ser o menos lucrativo, o barril de óleo cru está sujeito a grandes flutuações de preço e excesso de oferta, além de riscos políticos e ambientais.

2.Os setores de transporte, refino, distribuição e petroquímica são os mais estáveis e lucrativos da cadeia de petróleo. Todas as grandes estatais petroleiras estão fazendo o grosso de seus investimentos no refino e na petroquímica, caso da PEMEX com sua nova e grande refinaria em Tabasco, no México e a SAUDI ARAMCO que vai dobrar até 2023 sua atual capacidade de refino de três para seis milhões de barris/dia, tudo para agregar valor ao barril de óleo cru.

Quem tiver dúvidas consulte os relatórios anuais da Exxon, Chevron, Shell, Conoco Philips para ver onde está o foco de expansão dessas empresas, não é na extração de óleo cru e sim no “downstream” da cadeia de petróleo. O velho pioneiro John Rockefeller, nos primórdios da indústria do petróleo, tinha horror à extração porque achava muito arriscado e se concentrava no refino e distribuição, a partir daí criou a Standad Oil. Mais ainda, é o refino e a distribuição a “cash cow”, a produtora de caixa, de capital líquido diário, do capital de giro de toda a empresa. A extração exige muito investimento e demora para dar frutos, pode quebrar a empresa, o refino e distribuição criam capital de giro para toda a empresa, é dinheiro que entra a cada minuto todo o dia, não importa o preço do barril cru, é da distribuição que sai o custeio de tudo, até dos investimentos em extração, é o coração da petroleira.

Portanto, a Petrobrás está na contramão da lógica e da tendência global da indústria de petróleo, desinvestindo onde devia investir e investindo em um campo muito arriscado e especulativo. Na mídia brasileira aceita-se qualquer bobagem que sai da linha oficial, não se faz reparos, não se questiona.

Prova dos nove: Se a BR Distribuidora é um setor do qual a Petrobrás deve sair porque é ruim, como houve oferta de compra de quatro vezes mais de ações ofertadas? Se a distribuição de combustíveis é tão ruim a ponto da Petrobras sair, como há tantos interessados em entrar?

Outros mega chute: o preço do gás vai cair 40% depois da Petrobras sair do setor. De onde saiu isso, qual a evidência? Os Sardenbergs, Borges e cia. aceitaram e repetiram essa lenda. Mas qual a base técnica? É puro palpite, não tem nenhuma evidência. Investimentos em gás maturam em dez anos, só então vai poder se conferir os 40% de redução, tão verdadeiros como a baixa do preço das passagens aéreas quando se pagar por mala de bagagem.

Junto com o apagão gerencial na Petrobrás há o apagão profissional da mídia econômica brasileira, que aceita toda bobagem como catecismo.

Fonte: Vermelho