Apontamentos sobre o novo resultado financeiro da Petrobrás

No primeiro resultado no governo Bolsonaro, a Petrobras viu seu lucro líquido do primeiro trimestre de 2019 cair 42% se comparado ao mesmo período do ano passado. A estatal lucrou R$4,031 bilhões entre este janeiro e março, R$ 2,93 bilhões a menos do que no primeiro trimestre de 2018. A empresa elencou quatro principais motivos para este resultado: (i) redução de 7% na média da cotação internacional do preço do barril de petróleo se comparado ao trimestre anterior; (ii) menor volume de vendas de derivados no mercado interno, devido à redução da atividade econômica no início do ano e à maior concorrência (!); (iii) redução na receita das exportações, decorrente da queda do preço internacional do petróleo; e (iv) uma mudança contábil (novas regras para a contabilização de arrendamentos mercantis, chamada de IFRS 16), que fez o lucro “reduzir” quase R$ 470 milhões.

A primeira coisa que chama a atenção é um dado que já havia sido adiantado pela ANP na semana passada, a queda de produção de petróleo e gás da Petrobras. Segundo o relatório da Petrobras, a empresa extraiu 4% a menos neste trimestre se comparado ao imediatamente anterior. Se utilizarmos os dados da ANP, comparando março de 2019 e março de 2018, veremos que Petrobras produziu 1,9% a menos, enquanto que a Shell passou a produzir 5,5% a mais de barril de óleo equivalente por dia (boe/d). Isto está fazendo com que a Petrobras perca seu peso no mercado de extração, mesmo sendo este o setor “prioritário” desde Pedro Parente. Neste um ano a estatal brasileira diminuiu 2,19 p.p. em participação na produção total de petróleo e óleo, saindo em março de 2018 de 76,59% de toda a extração de petróleo e gás do país para, 365 dias depois, 74,39%. Para um ano é uma queda bem considerável. Isto é, em grande parte, efeito da política do governo para o pré-sal, que hoje já é a principal fonte de petróleo do país, e dos desinvestimentos da Petrobras.

Sobre a queda da venda de produtos refinados, tido como um dos fatores negativos, a Petrobras chamou a atenção para a diminuição do seu market share (termo utilizado para denominar a fatia do mercado pertencente à uma determinada empresa). Ou seja, não foi apenas por conta da queda da demanda que o setor de refino da empresa foi prejudicado, mas também porque perdeu, em função da adoção da política de preços “competitivos”, participação no mercado de diesel (1 p.p. em um ano) e de gasolina (3 p.p. em um ano). Ou nas palavras da própria empresa: “O market share da Petrobras para o diesel e para a gasolina caiu. Isso indica que houve aumento da concorrência no mercado de derivados, em função da prática de preços competitivos pela companhia”. Os sucessivos tiros nos próprios pés estão fazendo efeito.

Outro ponto importante é a intensificação dos “desinvestimentos”. Segundo a Petrobras, “consistente com a meta de concentração nos ativos em que somos donos naturais, nos quatro primeiros meses do ano nossos desinvestimentos chegaram a US$11,3 bilhões, um recorde para a Petrobras. A transação de maior valor foi a venda de 90% da TAG por US$ 8,6 bilhões. No futuro próximo é nossa firme intenção vender participações residuais de 10% na TAG e NTS”. Ou seja, neste trimestre também houve recorde de privatização na empresa, como anunciado acima. Além disto, no mesmo relatório de desempenho da Petrobras, a estatal também chama a atenção para a venda das ações da empresa em poder da Caixa Econômica Federal, mais do processo de entrega da empresa para mãos privadas. A Caixa detém 2,2% do capital total da Petrobras.

Por outro lado, os investimentos continuam a encolher. A Petrobras investiu entre janeiro e março de 2019 30% a menos do que no último trimestre do ano passado e 24% a menos do que o mesmo trimestre de 2018. Refino, transporte e distribuição foi o setor com maior diminuição de investimentos (-40%), já distribuição (-22%) e exploração & produção (-27%) tiveram as menores retrações, comparando o 1º trimestre deste ano com o imediatamente anterior.

Algumas tendências continuam, como diminuição de investimentos e privatizações, mas há outras questões que também devemos nos debruçar, como a contínua perda de market share da Petrobras e o crescimento de multinacionais que ganham com o nosso pré-sal, além dos já sentidos efeitos da política para o refino, setor que passará por péssimos momentos com a possível venda de metade da capacidade.

Por: Eric Gil Dantas, economista do IBEPS
Fonte: Sindipetro-SJC