Estratégias de lutas, comunicação e painel sobre Rosa Luxemburgo e Marielle Franco enriquecem debate

Segundo dia de congresso

O segundo dia do 12º Congresso da FNP começou nesta sexta-feira (03) com o painel sobre Defesa das Estatais, com a dra. Raquel Sousa, advogada da FNP e Sindipetro Alagoas/Sergipe e do professor Nazareno Godeiro, coordenador do Instituto Latino-Americano de Estudos Socioeconômicos (Ilaese).

À tarde, a partir das 14h, foi a vez do painel sobre estratégias de mobilizações, com a presença de Atenágoras Teixeira Lopes, membro da Secretaria Executiva da CSP Conlutas e Guirá Borba, diretor do Sindicato dos metalúrgicos de São José dos Campos.

Defesa das estatais
Raquel foi o nome que mais incomodou o governo Temer e a gestão de Pedro Parente na Petrobrás nos últimos dois anos. A advogada foi responsável por ter conseguido, em 2018, por meio de uma liminar, suspender a venda da Transportadora Associada de Gás (TAG). No início do ano a liminar foi suspensa pelo presidente do Supremo Tribunal de Justiça (STJ), ministro João Otávio de Noronha, que sustentou sua decisão dizendo que reconheceu que a paralisação do processo afetaria o “interesse público” e traria “grave lesão à ordem e à economia públicas”, porém, Raquel revela o contrário, ao comparar o prejuízo da Petrobrás com a venda da NTS.

“A Petrobrás vendeu a NTS por R$ 17 bilhões e assinou contrato de locação dos dutos que vendeu. Em menos de cinco anos a empresa irá pagar de aluguel mais do que recebeu vendendo a NTS e um ano após a venda a Petrobrás declarou prejuízo justamente por pagar preços caríssimos de aluguel dos dutos”, explicou Raquel.

A Brookfield, empresa  que comprou a NTS prevê lucro até 2028, sem considerar o aumento de produção com os campos do pré-sal, de R$ 49 bilhões.

A TAG foi vendida seguindo os mesmos modelos de negócio da NTS no início de abril pela Petrobrás, por US$ 8,6 bilhões ao grupo Engie, em conjunto com o fundo canadense Caisse de Dépôt et Placement du Québec. A previsão é que a Engie recupere o investimento em até cinco anos.


Hoje não!
Para Nazareno, o principal objetivo da privatização é retornar a economia brasileira aos moldes do colonialismo, desnacionalizando nossas empresas. “O lucro líquido de seis empresas estatais em 2018 foi de R$ 18 bilhões e o governo quer arrecadar 20 bilhões privatizando. O verdadeiro motivo das privatizações é destruir a indústria brasileira. O Brasil era o quarto país no mundo em industrialização, fabricando de aviões e trens, a produtos de higiene e alimentação”.

Embora os ataques tenham sido mais agressivos nos últimos três anos, a Petrobrás nunca deixou de sofrer intervenções para aumento de lucro de seus acionistas. Gerida por executivos com ligações fortes com o mercado financeiro, como Aldemir Bendine, preso pela operação Lava-Jato, e Pedro Parente, ministro do apagão da era FHC, a empresa vem deixando seu papel social, cedendo aos apelos do mercado. De acordo com Nazareno, de 2003 e 2017 a Petrobrás demitiu 20 mil trabalhadores próprios e 50 mil terceirizados.

Com 33% de suas ações nas mãos de empresários estrangeiros, é possível entender (mas não aceitar) porque a Petrobrás tem sido esquartejada, em nome do lucro.

“Isso é um absurdo. Hoje, com toda tecnologia e poder de produção de uma empresa como a Petrobrás, o salário de um petroleiro se pagaria em uma hora e trinta e nove minutos de trabalho. Ou seja, o petroleiro trabalha seis horas e 21 minutos de graça, para dar lucro aos acionistas, e para eles ainda não é o suficiente, querem tirar mais”, explica Godeiro.

Nazareno vê apenas uma saída em defesa dos trabalhadores: mobilização e luta. “No Brasil 5% dos mais ricos concentram 95% do que se produz no país. Lucro é sinônimo de destruição. O que estão fazendo com as privatizações é um roubo puro e simples”.

(Alerta de spoiler) Ao final do painel, pegando carona na febre Game of Thrones, Raquel fez um paralelo entre a luta contra a privatização e a guerra entre humanos e mortos-vivos, cujo o resultado negativo seria a aniquilação da raça humana: próximo de uma luta definitiva, a conclamação: hoje não!

Estratégias de mobilizações
O painel sobre estratégias de mobilizações foi a programação mais esperada do dia. Com petroleiros dos Sindipetros da FNP e de oposição das bases da FUP, sobraram participantes querendo contribuir com ideias e sugestões para mobilizar as bases.

A luta contra as privatizações e a reforma da Previdência são os temas que convergem a classe trabalhadora, mas não faltaram discussões sobre temas mais específicos, como a bandeira “Lula Livre”. O tema divide a opinião dos petroleiros entre os que não acreditam na inocência do ex presidente e os que defendem ser uma prisão política, portanto seria necessário um posicionamento da federação. O assunto deve seguir no sábado, durante os debates dos grupos de trabalho.

Apesar das discussões, para Atenágoras o tema não chega a prejudicar a unidade dos trabalhadores. “Tivemos talvez um primeiro 1º de Maio com todas as centrais sindicais do país, em nenhum momento a bandeira Lula Livre foi reivindicada, pois todos sabem que o assunto divide a classe, mas respeitamos o direito de quem defende e de quem é contra. A unidade sólida se constrói respeitando as diferenças”.

Na mesma linha da união, Guirá foi enfático em dizer que a luta em defesa das refinarias, contra a privatização e a reforma da Previdência não será vencida se somente os petroleiros ou metalúrgicos se mobilizarem. “Nós temos que, além de respeitar as nossas diferenças, nós temos que discutir as diferenças. Fraternalmente, como irmãos de classe, como aqueles e aquelas que enfrentarão ombro a ombro a polícia, o exército, o patrão contra a projeto que está posto contra nós. Mas se nos calarmos diante das diferenças estaremos colocando água no moinho do outro”.

Opressões: “De Rosa Luxemburgo a Marielle Franco”
A programação teve ainda debate sobre assédio e machismo na sociedade e na Petrobrás, utilizando os exemplos de vida de Rosa Luxemburgo e Marielle Franco.

A mesa propôs à FNP que se estabeleça uma cota mínima de 16% na formação das diretorias da federação. A proposta será votada no domingo (4).

Ao final da palestra a mesa convidou todas as mulheres a subirem a bancada, lembrando o desaparecimento da colombiana Carolina Garzón Ardila, que desapareceu em circunstâncias estranhas na cidade de Quito, Equador, dia 28 de abril de 2012. Até hoje, passados sete anos de seu desaparecimento, os governos da Colômbia e do Equador não solucionaram o desaparecimento da jovem.

Comunicação em massa e redes sociais
Em seguida, a última palestra do dia tratou sobre os desafios das comunicações de massa das mídias sociais”, apresentado pela jornalista Claudia Santiago, do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC).

As palestras do dia estão disponíveis na íntegra no Facebook dos Sindipetros do Litoral Paulista, Rio de Janeiro e da FNP.