Do presidente aos conselheiros: “galinheiro” da Petrobrás é invadido por raposas

Sonham com privatização total

Imagine a seguinte situação: você contrata um novo gestor para comandar sua empresa. A intenção é recupera-la de um período de turbulência e crise financeira. Mas ele acha que o melhor não é retomar investimentos e valorizar as áreas do seu negócio mais rentáveis. Pelo contrário, o desejo mais profundo dele é vender tudo o que você tem de mais lucrativo para os concorrentes. Péssimo negócio, certo?

Essa é a atual situação da maior empresa do país, a Petrobrás. Do presidente aso conselheiros, os corredores por onde transitam a alta diretoria da empresa estão infestados de velhas raposas sedentas para “cuidar" do galinheiro.

O exemplo mais emblemático é, sem dúvidas, Roberto Castello Branco. Escolhido por Bolsonaro para presidir a empresa, ele é um ferrenho defensor da privatização integral da Petrobrás. Hoje no posto mais importante da companhia, se viu obrigado a perfurmar o discurso, mas o plano vem sendo bem executado. Venda de ativos, entrega do pré-sal, ameaça de demissões, fechamento de unidades.

Ele mesmo já reconheceu à grande imprensa o “sonho” de vender a Petrobrás e de ainda este ano vender ao menos uma refinaria. Seria, digamos, o seu “presente de natal”. O motivo da venda, curiosamente, não é um possível prejuízo da área de refino. Pelo contrário, este é o setor da empresa responsável por gerar valor agregado ao óleo bruto a partir da produção de derivados de petróleo. Ele justifica esse crime de lesa pátria da seguinte forma: "É inconcebível uma única empresa ter 98% do refino do Brasil, queremos ampliar a concorrência”.

A partir desta declaração, repetimos o exercício proposto no início deste texto. Imagine o McDonald’s, num belo dia, tomar a decisão de vender unidades valiosas de sua rede para o Bob’s simplesmente por que quer estimular a concorrência, por que na sua honesta e altruísta opinião é generoso abrir espaço para seus rivais. O que acharia dessa decisão? Burra? Com certeza.

É com este argumento que Castello Branco pretende vender as refinarias da Petrobrás, cuja estrutura e tecnologia de alto padrão levaram anos para serem desenvolvidas e hoje podem ser entregues praticamente de graça. E detalhe: desde a década de 1990, quando FHC quebrou o monopólio estatal do petróleo, qualquer empresa privada pode fazer negócios no setor petrolífero brasileiro. O grande crime da Petrobrás, uma empresa genuinamente brasileira, foi ser mais competente e maior que suas concorrentes estrangeiras.

Uma equipe de entreguistas
Os últimos três conselheiros escolhidos pelo governo Bolsonaro representam, de acordo com Castello Branco, “uma nova era”. São eles: o militar Eduardo Bacellar Leal Ferreira, Almirante de Esquadra, ex-comandante da Marinha do Brasil; João Cox, que já foi membro do Conselho de Administração de diversas companhias, como Tim Brasil, onde é Presidente do Conselho, Tim Participações, Embraer, Linx e Braskem; e John Milne Albuquerque Forman, que acabou desistindo no dia seguinte à sua indicação após vir à tona um processo na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que o condenou por suposto uso de informação privilegiada na venda de ações da petroleira HRT, atual PetroRio. Forman foi então substituído pelo professor Nivio Ziviani, especialista em tecnologia da informação.

Restará à categoria petroleira trazer para si a responsabilidade de denunciar a entrega da empresa mais lucrativa e estratégica do país. A resposta dos trabalhadores deve ser imediata. Para isso, serão necessárias estratégias e a construção dessa reação começa com os congressos regionais e nacional dos petroleiros.