Argemiro Antunes, Miro, morre aos 76 anos, Sindipetro-LP está em luto

Criador do Petrolino

Não é fácil escrever sobre Argemiro Antunes, o nosso chapinha Miro. Não só porque a dor por sua morte, ocorrida nesta segunda-feira (20), é grande. Imensa. Mas também porque Miro, sempre em transformação, é um sujeito inclassificável. Seria injusto defini-lo por uma ou outra característica, por um ou outro talento. Eram tantos, que não cabem num texto. Eram tantos, que qualquer título de reportagem fatalmente reduzirá a sua importância.

Miro fez parte da família petroleira. Assistente administrativo na Refinaria Presidente Bernardes de Cubatão, foi um firme combatente de nossa categoria. Mesmo aposentado, volta e meia estava em nossa sede, em Santos, para discutir os rumos da Petrobrás e do país. Por oito anos, justamente os últimos em que esteve na ativa, pertenceu à diretoria do Sindipetro Litoral Paulista. Ao lado de Pedro Sampaio, “o melhor dirigente sindical” que a categoria já teve, segundo as palavras do próprio Miro, foi parte de uma geração de petroleiros que não tremeram nem mesmo diante dos milicos nos anos de chumbo.

Também foi um grande artista gráfico e chargista. Um dos melhores que Santos já conheceu. Ao lado de nomes como Ziraldo, colaborou com aquela que foi a maior revista do gênero no país: O Pasquim. Com ironia, sarcasmo, inteligência fina, soube driblar os censores do regime militar. Foi ele também o maior artista que a categoria petroleira do Litoral Paulista já conheceu. Sim, porque foi ele o criador do nosso querido mascote, o Petrolino. Criado no final dos anos 1970, em plena ditadura, desde então estampa as páginas dos jornais do Sindipetro-LP denunciando os abusos dos gerentes, incentivando a categoria a lutar por seus direitos e por um país mais justo.

Porque sim, se havia uma coisa que Miro sempre fez foi lutar. Como petroleiro e nacionalista, por uma Petrobrás 100% Estatal, a serviço da soberania nacional. Como cinéfilo, por um cinema engajado, que não fosse simples instrumento de entretenimento, mas sim de transformação e reflexão. Se pudesse, certamente voltaria no tempo e pediria às novas gerações para assistir ao cinema novo de Glauber Rocha e companhia. Por mais de 30 anos, Miro colaborou com o Clube de Cinema de Santos – espaço criado por seu amigo pessoal de décadas, Maurice Legeard, grande precursor e difusor do cinema alternativo na Baixada Santista. Era Miro, aliás, o responsável por desenhar os cartazes das sessões de cinema promovidas por Maurice no Cine Roxy, nas saudosas sessões de sábado à meia-noite.

Nos últimos anos, Miro não conseguia disfarçar sua tristeza com os rumos que o país tomou. Compreensível. Mais do que contemporâneo, ele participou ativamente de períodos históricos que produzem nostalgia, saudade: viveu o novo sindicalismo, combatente e classista; viveu o cinema novo, rebelde e revolucionário; viveu a imprensa alternativa, ao mesmo tempo política e cultural. Para um homem como ele, das lutas e das artes, não havia combinação melhor.

Miro faleceu aos 76 anos, em Santos, após sofrer uma parada cardíaca. O sepultamento do seu corpo ocorre nesta terça-feira (21), às 8h, no Cemitério da Areia Branca. Ele deixa esposa, duas filhas e uma centena de amigos e admiradores por aqui.

O Sindipetro Litoral Paulista está de luto.
Miro, presente!

Crédito da foto: Isabel Nascimento