Com média de 102% nas metas da empresa, PLR não será paga aos empregados e acionistas pelo terceiro ano seguido

Prejuízo inventado

Apesar dos indicadores de metas para pagamento da Participação dos Lucros e Resultados (PLR) ter média de 102%, os trabalhadores petroleiros mais uma vez serão penalizados, e não receberão sua parte dos lucros da empresa.

Os resultados da Petrobrás de 2016 apresentam índices de até 115% em metas estabelecidas pela companhia, porém, a empresa aponta que a carga processada não atingiu a meta, ficando em 91% do que havia sido estabelecido. 

Segundo declarado pelos prepostos da companhia, a meta da carga processada não foi atingida devido a queda na venda de diesel, porém a empresa lucrou mais do que se tivesse vendido mais o produto. Isso porque, conforme foi explicado para os sindicatos, o preço do óleo diesel produzido pela Petrobrás está um pouco acima da média mundial, o que fez com que outras empresas importassem diesel de outros países, diminuindo com isso a venda do produto pela companhia. No entanto, mesmo tendo vendido 15% a menos do derivado, a diferença do preço do diesel da Petrobrás com relação ao praticado no mercado interno e externo gerou lucro maior do que se tivesse atingido a meta.

O absurdo gerencial demonstrado no relatório da Petrobrás denuncia o que a FNP vem dizendo há anos: o regramento sobre a PLR é prejudicial para o trabalhador, pois, dependendo das decisões da companhia, a meta nunca será atingida, porque atingir a meta nem sempre será o melhor para a empresa.

O relatório apresentado à FNP indica que a Petrobrás teve prejuízo líquido de R$ 14,824 bilhões em 2016. Foi o 3º ano consecutivo de resultados negativos. Em 2015, a estatal registrou prejuízo recorde de R$ 34,8 bilhões. Em 2014, as perdas somaram R$ 21,6 bilhões.

Mesmo com o prejuízo, houve grandes melhoras da estatal do ponto de vista operacional e o crescimento de 12% nas exportações no último trimestre do ano passado.

Como é regra no mercado para as grandes empresas e usado de forma menos nociva por outras companhias da indústria petroquímica, para construir o relatório de resultados a Petrobrás utiliza da regra do “impartment”, que é avaliar periodicamente o valor dos ativos que geram lucros antes de contabilizá-los no balanço. Cada vez que se verificar que um ativo esteja avaliado por um rendimento menor no futuro, ou seja, toda vez que houver uma projeção de geração de caixa inferior ao montante pelo qual o ativo comprado ou construído, a companhia terá que fazer baixa (venda).

Diferente de petroquímicas como Shell, Total e outras empresas que estão vendendo ativos em seus países para comprar ativos da Petrobrás, a companhia tem desvalorizado sistematicamente seus negócios, desconsiderando os altos e baixos das ações na bolsa de valores, o preço do barril de petróleo, a desaceleração da indústria e as variações do dólar. Com isso, amargamos prejuízos só existentes no papel e não por acaso.

Cuidado com o golpe

Com o terceiro ano seguido sem atingir metas e sem pagar os dividendos para seus acionistas, pela regra das empresas de sociedade anônima, ao qual a Petrobrás faz parte, os acionistas sem direito a voto poderiam ter essa prerrogativa quando ficam sem receber dividendos por três exercícios seguidos. Com isso poderiam aprovar medidas que só visariam o lucro, em detrimento do papel social que a empresa tem no Brasil.

No entanto, a Petrobrás está inserida nas regras da Lei do Petróleo, que não prevê o aumento da participação dos acionistas em casos do não pagamento de dividendo por três anos consecutivos. Porém, não é impossível prever manobras judiciais e políticas para que a empresa passe para seus acionistas a decisão de seus negócios.

Formada em sua maioria por grupos financeiros e donos de multinacionais, os acionistas da companhia teriam muito o que ganhar ao assumirem as estratégias comerciais da Petrobrás.

Os bons números operacionais demonstram mais uma vez a capacidade técnica e o empenho dos trabalhadores e trabalhadoras petroleiros. Ao contrário das gerências e Diretoria Executiva, que só fizeram lambanças, essa imensa força de trabalho é a responsável pelo aumento de produção e por manter a Petrobrás competitiva mesmo com as adversidades. Esses mesmos trabalhadores são os que estão sendo sacrificados com aumento de demandas e metas, e há anos estão sem receber aumento real nos salários.

Enquanto perdemos direitos, a alta cúpula da empresa cria formas de se premiar, mesmo que os empregados e acionistas não recebam seus dividendos. Os trabalhadores não podem ser penalizados pela má administração da companhia!