“Impairment” no balanço da Petrobrás é usado para justificar venda de ativos e entrega do pré-sal

Privatização

Cláudio da Costa Oliveira*

Baseado em fatores altamente voláteis como preço do barril, variação cambial e taxa de juros, a Petrobrás fez um “impairment” inusitado, forçando um prejuízo de R$ 16,5 bilhões no 3º trimestre de 2016.

O cálculo considera que o preço do barril, o câmbio e a taxa de juros, manterão os valores registrados no final de setembro/2016 pelos próximos 10 anos. Baseado nesta premissa, é feito um ajuste no valor das reservas de petróleo registradas no balanço, gerando muito prejuízo. Por outro lado diversos equipamentos que já tinham sido reavaliados nos balanços de 2014 e 2015, tiveram seus valores novamente ajustados, dentro de critérios não muito claros.

Nenhuma grande petroleira fez este tipo de ajuste.

Pedro Parente está aproveitando o momento em que é retirada a exclusividade da Petrobrás no pré-sal, para passar à maioria dos brasileiros (leigos neste assunto) a impressão de que a empresa vive realmente sérios problemas financeiros (o que é uma mentira), para justificar a venda de ativos e a entrega do pré-sal.

Em primeiro lugar, é preciso sempre lembrar que este tipo de ajuste feito é apenas contábil e não afeta o caixa da empresa, que por sinal vai muito bem e fechou o trimestre em R$ 72,6 bilhões o equivalente a US$ 22,34 bilhões.

Além disso, o EBITDA ajustado aumentou 11% em relação a igual período de 2015, somando R$ 63 bilhões. O fluxo de caixa livre foi de R$ 29,6 bilhões, 3,6 vezes superior ao registrado entre janeiro e setembro de 2015. Conforme notas explicativas da Petrobrás, as causas desta melhora foram as maiores margens no diesel e na gasolina e menores gastos com importação e pagamento de participações governamentais, devido à queda no preço internacional do barril (a queda no preço internacional do barril melhora o resultado da Petrobrás).

Quanto ao pré-sal, primeiro a grande mídia dizia que não existia. Depois que existia, mas não havia tecnologia para extração. Depois que dava para retirar, mas o custo era inviável. E agora, sabendo da viabilidade, aprovam a idéia lesa-pátria e tentam convencer os brasileiros que é melhor entregá-lo para as petroleiras estrangeiras. Este pré-sal brasileiro quebra recordes de produção mês a mês.

Em oportuna visita ao Brasil, o presidente mundial da Shell, Ben Van Reurden elogiou (é claro) o projeto que desobriga a Petrobrás de ser operadora única no pré-sal e informou que sua empresa vai investir US$ 10 bilhões por aqui nos próximos 4 anos.

* Cláudio da Costa Oliveira é economista aposentado da Petrobrás