Projeto Cactos, que recebe apoio do Sindipetro-LP, oferece ajuda a dependente químicos

Parcerias sociais

Há alguns anos o Sindipetro-LP colabora financeiramente com o Centro de Apoio de Recuperação de Dependentes de Álcool e Drogas, conhecido na Baixada Santista como Cactos. O grupo, que tem entre seus voluntários alguns petroleiros, ajuda a recuperar, por meio de atividades, reclusão e seguindo os 12 passos dos Narcóticos Anônimos (NA), a reabilitar dependentes de drogas. 

Para apresentar aos associados a instituição, a assistente social Karin Almeida e a psicóloga Marcella Moreti foram até a fazenda Cactos, para conversar e conhecer melhor o projeto. Com lugar para 30 pessoas, exclusivamente para homens, a fazenda tem hoje 15 acolhidos. Alguns residentes não pagam nada para ficar na instituição, já outros contribuem mensalmente com valores que variam entre R$ 100 e R$ 200. Outra fonte de renda são os eventos promovidos pela instituição para arrecadar dinheiro e mantimentos para manter o projeto. O Cactos é financiado também por doações de voluntários e parcerias com outras entidades, como o Sindipetro-LP, que além da doação mensal cede espaço na sede do Sindicato para realização de eventos beneficentes, como a noite da pizza, em que os próprios residentes participam da organização.

Os dependentes que aceitam o tratamento são levados até a fazenda Monsenhor Ciro Fanha, localizada no bairro Samaritá, na Área Continental de São Vicente (rodovia Manoel da Nóbrega Km 278,5).

Os residentes do projeto Cactos não são obrigados a ficar no local. Só fica no tratamento quem quer. Para os que não se adaptam e pedem para deixar o tratamento, após conversas com os profissionais e voluntários e com o conhecimento da família podem deixar a fazenda. Os homens que ficam internados são acompanhados por três voluntários, ex dependentes químicos, que foram reabilitados no projeto Cactos.

Nos nove meses de tratamento na fazenda Cactos, os residentes cumprem tarefas programadas, como manutenção da sede, cuidados com a horta e animais, limpeza coletiva, preparação de refeições, reuniões, conversas espirituais etc. Chamada de laborterapia, a participação das atividades na fazenda é parte importante do tratamento dos dependentes.

Das centenas de pessoas que passaram pelo projeto nos mais de 26 anos de sua existência, muitos não mantém mais contato com a instituição, por isso é difícil quantificar quantos se recuperaram e controlam hoje a dependência. “Se de dez pessoas a gente conseguir recuperar uma, ajudamos no mínimo a uma família se reestruturar”, conta seu Belarmino Jorge de Carvalho, ex dependente químico que se tratou no projeto e hoje é supervisor no Cactos.

Seu Belarmino, como é chamado pelos residentes, tem 59 anos, e é um dos exemplos de recuperação do projeto. Aliás, é ‘O Exemplo’. Ele foi o residente número 001 do projeto, há 26 anos. “Na época não tínhamos essa estrutura, a gente ficava em barracões”, lembra.

Seu início nas drogas foi quando ainda tinha entre 13 e 14 anos. Durante boa parte de sua vida, até seus 33 anos, quando decidiu realmente se dedicar a reabilitação, passou pelas piores experiência possíveis. Perdeu o emprego de metalúrgico, se afastou da família e por dois anos morou nas ruas. Sem a menor perspectiva de mudar sozinho, com a ajuda da família, que insistiu em vê-lo recuperado, Belarmino foi para o Cactos para se livrar de sua dependência. Não antes de parar o tratamento por mais algumas vezes, até que finalmente concluiu os 12 passos do programa.

O barracão em que Belarmino morou hoje é utilizado como sala de exercícios. Em constate mudança, a instituição pretende arrecadar fundos para construir uma sala de exercícios mais adequada, de alvenaria.

A convivência com voluntários que já passaram pelos mesmos conflitos e tentações servem de exemplo e inspiração para quem quer se reabilitar. “Temos aqui uma relação de amizade. Conversamos, jogamos bola, mas quando tenho que chamar a atenção eu chamo e eles me respeitam. É importante seguir as normas e participar das atividades”, conta Belarmino.

Ressocialização
Durante o tratamento, o residente passa por períodos de uma semana com a família, sem acompanhamento dos supervisores. Após essa semana, retornam para a fazenda, para retomar o tratamento. Os residentes passam ainda por sessões com psicólogo, psiquiatra e recebem visitas semanais de grupos para conversas sobre questões espirituais, estudar a bíblia e debater sobre os problemas enfrentados. Mesmo quem não tem religião precisa participar das reuniões. “Faz parte da programação. Os problemas enfrentados por quem segue ou não religião são os mesmos e essas conversas servem para mostrar para todos que eles não estão sós. A experiência de um ajuda o outro”, explica seu Aloísio, ex dependente químico, hoje funcionário do projeto.

Próximo de concluir a reabilitação, já no oitavo mês do tratamento, Helton Gomes, de 31 anos, luta contra o vício e para ajudar outras pessoas com problemas parecidos com os seus. Depois de passar por quatro internações em outras instituições, sem sucesso, Helton se vê próximo de conquistar a liberdade que a droga lhe tirou também no começo da adolescência, aos 15/16 anos. Vindo de uma família desestruturada pela presença do álcool, que o afastou da convivência com o pai, alcóolatra, começou cedo a usar drogas. Com o tempo, já não via mais limites para o uso de entorpecentes. “Quando você começa a se esconder até mesmo de outros usuários para usar droga, para não dividir sua porção de crack ou cocaína é que a coisa está fora de controle. Com o tempo você deixa de se importar com a aparência, não liga para a família, as pessoas passam a falar de você, mas só quem sofre são as pessoas que se importam com você. O dependente fica apático”, conta.

Há quatro anos Helton perdeu o pai, vítima das complicações de saúde causadas pelo vício em bebida. Porém, antes que a morte os afastasse definitivamente, a vida os reaproximou. Mesmo sem o laço de carinho, desfeito pelos anos sem a convivência de ambos, Helton passou a cuidar do pai, já invalido e sem quase nenhuma consciência de sua situação. O pai de Helton morreu sem saber que era cuidado pelo próprio filho. O álcool levou sua vida e suas lembranças. Mas, longe de se sentir desfavorecido pela perda do pai, Helton tirou uma grande lição do ocorrido. “O que meu pai não me ensinou na infância a ser homem me ensinou no fim da vida, a ser humano. Aprendi muito sobre mim cuidando do meu pai. Dei todo amor, cuidei com toda dedicação e posso dizer sem remorso que ele se foi, mas não teve sequer uma escara no corpo”, lembra.

Para Helton, o período na fazenda Cactos tem sido de transformação e aprendizagem. Ele sabe que terá que enfrentar as tentações sozinho, mas se diz preparado para mudar de vida e fazer tudo diferente. “Hoje eu foco no que tenho de melhor, porque o pior eu já mostrei. Vai demorar para conquistar a confiança de algumas pessoas que magoei. A droga faz isso, nos afasta de quem amamos. Mas com o tempo, com minhas mudanças de atitudes e comportamento, as pessoas vão ver que superei isso”.

Doações e ajuda
A Cactos precisa de doações para manter suas atividades. Com sede e fazenda cedidas por doadores, todas as despesas decorrentes do projeto são custeadas pela própria instituição, por meio de doações e realização de eventos beneficentes.

Quem quiser conhecer mais sobre o projeto e o programa dos 12 passos, quiser colaborar doando valores regulares por mês, ou quando for possível, pode ligar para o número (13) 3234-8548. A instituição recebe também doações de móveis e roupas, que serão colocados à venda para reverter em melhorias para os acolhidos