Por que protocolamos a pauta histórica num período “difícil”, segundo Pedro Parente

ACT

Tiago Nicolini, diretor do Sindipetro-LP

Fomos questionados nas nossas bases do Litoral Paulista o porquê de termos protocolado uma pauta reivindicatória tão extensa, já que nesse ano serão negociadas apenas as cláusulas econômicas com a companhia.

Em primeiro lugar, é necessário ratificar (conforme já divulgado) que a diretoria da FNP é obrigada a cumprir a deliberação do último Congresso Nacional, realizado em Macaé (RJ), no mês passado, onde foi decidido que nesse ano, assim como nos anos anteriores, os sindicatos deveriam encaminhar a pauta completa reivindicatória, e não apenas os itens econômicos, haja vista que o entendimento da maioria dos delegados é que não devemos aceitar um ACT com vigência de dois anos. Além disso, cabe ressaltar alguns pontos que foram omitidos no último pronunciamento da Petrobrás, ocorrido no dia 26/08, através do seu Portal de Notícias.

De forma bastante discreta, a companhia divulga que a geração operacional do seu caixa se elevou em 63%, saindo do valor de R$ 52,9 bilhões para R$ 86,4 bilhões, após declarar que continua bastante endividada. No entanto, omitiu informações bastante relevantes, como a queda de aproximadamente R$ 60 bilhões (15%) no endividamento líquido no último semestre, que saiu dos R$ 392,1 bilhões em dezembro de 2015 para R$ 332,4 bilhões no final de junho. Além disso, o seu endividamento bruto recuou 19% (R$ 95,3 bilhões) no período: de R$ 493 bilhões para R$ 397,8 bilhões. Em relação à produção de óleo e gás do último semestre, o lucro líquido atingiu R$ 370 milhões no período entre abril e junho.

A produção total de petróleo e gás natural, em julho de 2016, foi de 2,89 milhões de barris de óleo equivalente por dia (boed). A produção de petróleo e gás natural operada na camada pré-sal, em julho, cresceu 6% em relação ao mês anterior e bateu novo recorde mensal ao alcançar o volume de 1,32 milhão boed, ultrapassando, pela primeira vez, a marca mensal de 1 milhão bpd só de petróleo. Outro destaque foi que o lucro bruto registrado aumentou 9% na comparação com o primeiro trimestre, atingindo R$ 22,8 bilhões. Já o lucro operacional atingiu R$ 7,2 bilhões ante um lucro de R$ 8,1 bilhões no primeiro trimestre. É possível observar com esses dados que houve um crescimento notório de produção nos últimos anos, ao passo que a sua dívida está caindo, mês a mês.

A empresa insiste em afirmar que houve um aumento expressivo nas despesas de pessoal entre 2010 e 2014, mas omite a informação de que, neste mesmo período, houve um crescimento acelerado no número de empregados, chegando ao pico 86.108 empregados no Sistema Petrobrás, em 2013, devido, principalmente, ao volume de investimentos que havia sido traçado com a implementação de novos projetos nos diversos seguimentos onde atua como empresa integrada de energia. Aí vem a seguinte indagação: isso por acaso é ruim?! O aumento do número de postos de trabalho nunca foi um fator prejudicial à sociedade, muito pelo contrário, sempre foi determinante para que o país pudesse superar os efeitos da crise internacional que já assolou o mundo inteiro. A companhia critica o fato dos sindicatos terem protocolado uma pauta com 251 itens, alegando estar em uma situação econômica difícil, mas não foca na apresentação dos resultados positivos para a força de trabalho. Onde está a tão falada transparência? Será realmente um absurdo o fato de termos protocolado uma pauta reivindicatória cobrando a manutenção dos salários com a reposição da inflação e um aumento justo por produtividade? Será que isso representa um ato lesivo ao patrimônio da empresa?

Afinal de contas, qual é o maior patrimônio da companhia? Não seria a sua própria força de trabalho, como tanto ela mesmo prega? Valorizar os seus empregados é garantir a todos eles que não haverá perdas salariais ao longo dos anos e, muito menos, redução de direitos e demais benefícios. O momento é de reflexão sim, mas é também momento de união e força para preservação de todas as conquistas que nós, petroleiros, conquistamos ao longo de décadas.