Seminário sobre saúde busca fortalecer luta em defesa dos trabalhadores

Dia Mundial em Memória das Vítimas de Acidentes

Uma data cujo significado é relembrar o passado para mudar o presente, uma data organizada em memória daqueles que perderam suas vidas vítimas da sede por lucro dos grandes empresários, do capital. Assim foi compreendido o 28 de abril, Dia Mundial em Memória das Vítimas de Acidente de Trabalho, no II Seminário Unificado sobre Segurança e Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora da Baixada Santista.

Realizada durante toda a manhã desta quinta-feira (28) com aproximadamente 100 pessoas, na sede do Sindipetro-LP, em Santos, a atividade foi parte da programação Abril Verde - iniciativa da Fundacentro em parceria com diversas entidades. Dentre elas, centrais e sindicatos da região como Sindipetro, Sindminérios, Sindicato dos Metalúrgicos, Sindicato dos Portuários e SIndicato dos Bancários. Também compareceram representantes de órgãos públicos parceiros como Cerest, SEVREST, CIST e Ministério do Trabalho. Servidores da Prefeitura de Santos que lidam diretamente com o tema também compareceram.

Em todas as intervenções, um grande consenso foi a constatação de que os problemas infelizmente não se restringem ao passado. Seja nas intervenções dos dirigentes sindicais ou dos representantes dos órgãos públicos, ficou nítido que a vida para o trabalhador continua muito difícil quando o assunto é segurança. Sendo assim, mais do que um ato para lembrar nossos mortos, o Seminário também sinalizou a necessidade de que as entidades de classe se unifiquem em torno deste tema.

Números alarmantes
O Brasil ocupa o vergonhoso quarto lugar mundial de acidentes de trabalho. Aqui, é registrada uma morte a cada 3,5 horas dentro de uma jornada de trabalho, sendo gastos anualmente 14 bilhões de reais por conta dos acidentes. Evidentemente, uma das principais saídas seria um forte trabalho preventivo para evitar novas ocorrências e atacar na raiz do problema esse drama.

Um dos problemas apontados é a subnotificação de acidentes. Na Baixada Santista, entre 2011 e 2013 o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) registrou 407 acidentes de trabalho graves, com 82 mortes, a maioria homens entre 20 e 34 anos. Em relação às mulheres, são elas as principais vítimas de afastamentos por doenças ocupacionais. Entretanto, quando esses números são confrontados com aqueles registrados pelo INSS demonstram ser muito inferiores à realidade.

Palestras
Após as intervenções das entidades organizadoras e convidados, o Seminário foi reservado para as palestras. A primeira delas foi dedicada ao departamento de Saúde do Sindicatos do Metalúrgicos de Santos. Maria Salete dos Santos, Assistente Social, e Mauro Abrrão Rozman, médico, trabalham há mais de 20 anos no Sindicato diretamente com trabalhadores vítimas de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais.

A experiência compartilhada por eles foi fundamental para compreender a necessidade de que todos os sindicatos, sem exceção, fortaleçam os seus departamentos para garantir aos trabalhadores um importante ponto de apoio. Segundo Salete, ele é baseado em um tripé formado por três verbos: acolher, compreender e orientar.

Mauro aproveitou a atividade para reivindicar o resgate de ações articuladas entre as entidades sindicais e os órgãos públicos responsáveis por dar apoio às vítimas de acidente de trabalho. Em sua opinião, a fragmentação e as ações individuais limitam a capacidade de medidas mais efetivas na prevenção à saúde dos trabalhadores.

“O que percebemos no sindicato é que a maioria dos trabalhadores não sabe o que fazer, ficam perdidos, com medo de perder emprego, e não sabe se deve e quando deve recorrer ao sindicato, ao Cerest ou Fundacentro,”, explicou Mauro.

Trabalho noturno
Na sequência, a professora da Unifesp Baixada Santista Fátima Queiroz foi responsável por esboçar um panorama da saúde do trabalhador no trabalho noturno. Para ela, dentro do capitalismo, este tipo de regime é marcado pela maximização unilateral de ganho em detrimento das condições humanas, sendo uma proposta neoliberal para impor a intensificação e precarização do trabalho.

Em relação aos efeitos à saúde, uma das principais marcas é a desordem temporal do organismo, ou seja, nosso corpo não consegue aceitar e nem se adaptar plenamente a essa mudança na rotina biológica e social. O trabalhador dorme menos e pior durante o dia e o organismo não entende, considera essa realidade estranha. Isso gera mal estar, fadiga, sonolência, irritabilidade, prejuízo de agilidade mental, prejudicando de forma muito intensa o sono diurno que é caracterizado por condições ambientais desfavoráveis como iluminação, ruídos e acontecimentos domésticos.

Para a professora, é preciso refletir sobre a forma como se estabelece esses regimes de trabalho. Hoje, o que impera nesses regimes de trabalho é a definição arbitrária por parte do empregador, sempre privilegiando como critério hierarquizador o lucro.

Assédio moral
A última palestra debateu o tema do Assédio Moral no trabalho com Laura Camara Lima, professora da Unifesp Baixada Santista. E, infelizmente, o próprio seminário demonstrou ser uma realidade que se alastra entre os trabalhadores. Após a palestra, foram diversos relatos de assédio moral entre os participantes que resultaram em traumas psicológicos e físicos.

Para a professora um dos efeitos mais perversos do assédio é a eliminação da dignidade e o estímulo à individualidade. “O viver junto, a produção e construção coletiva foram e estão sendo cada vez mais substituídas pela individualidade, pela competição, pela concentração de conhecimento. E isso é parte do neoliberalismo”.

Sobre a relação do assédio com os acidentes de trabalho, Laura opinou que “se tem trabalhador assediado, estressado, vivendo sob uma concorrência desumana e sob pressão grande, a chance de errar é muito alta e muitas vezes pode gerar um acidente de trabalho. Inclusive, fatal”. Além disso, acidente de trabalho não é apenas aquele físico, visível aos olhos. “Por isso, assédio moral tem tudo a ver com acidente de trabalho. As doenças mentais são as que, infelizmente, mais crescem e tiram as pessoas do trabalho”, afirmou.

Com tantos assédios, um resultado concreto tem sido a judicialização desses conflitos entre chefes e subordinados. Para Laura, isso reflete a incapacidade das empresas em lidar com esses casos. E mais: a prova de que as empresas não aceitam a luta dos trabalhadores por seus direitos, pela dignidade, pela organização coletiva.