As mulheres trabalhadoras são as que mais sofrem com a crise e ajuste fiscal

8 de março

A crise econômica se aprofunda no país e até agora a saída escolhida pelos governos, desde o Federal até os estaduais e municipais, tem sido atacar os direitos dos trabalhadores e aplicar uma política econômica marcada por juros altos, taxas elevadíssimas de serviços básicos e alta no preço dos alimentos. O mesmo vale para o empresariado, que vem demitindo e tentando retirar direitos através de acordos com os políticos em medidas como o PPE, PL 4330 e MPs 664 e 665.

O resultado é o rebaixamento acentuado das condições de vida da classe trabalhadora, em especial das mulheres, que tem muitas razões pelas quais lutar nesse 8 de março, Dia Internacional da Mulher. Para se ter uma ideia, em maio de 2015 o governo Dilma anunciou um corte de 69 bilhões no orçamento da União que tirou dinheiro da saúde, educação, moradia e aposentadoria para repassar aos banqueiros, na forma de pagamento da dívida pública, que consome praticamente mais da metade dos recursos do país.

Uma vez que são elas que sofrem na maioria dos casos com os empregos mais precários, informais, e com salários rebaixados, o desemprego afeta sensivelmente as mulheres trabalhadoras, em especial as negras. No Brasil conforme dados do IBGE, seguindo uma tendência mundial, as mulheres ganham em média 76% do salário dos homens, ou seja, a inflação para as mulheres é ainda mais sentida com uma renda menor ao mesmo tempo em que os gastos não param de crescer. Além disso, os serviços que empregam mais mulheres, como limpeza e alimentação, são aqueles em que a terceirização avançou a passos largos na última década, pagando os menores salários e com as piores condições de trabalho.

Comprovando esta avaliação, os últimos dados da PNAD/IBGE para os meses de abril, maio e junho de 2015, mostram que a taxa de desocupação (pessoas em idade de trabalhar sem emprego) é maior entre as mulheres em todas as regiões do Brasil. No 2º trimestre de 2015, a taxa total de 8,3% foi estimada em 7,1%, para os homens, e 9,8%, para as mulheres. Sendo que entre a população jovem esta taxa mais que duplica em relação ao total da população desocupada chegando a 18,6%. No mesmo período, ainda segundo o IBGE, o nível da ocupação dos homens, no Brasil, foi estimado em 67,1% e o das mulheres, em 46,2%, este fato foi constatado em todas as regiões do Brasil.

No caso da saúde, por serem as mulheres as principais usuárias do SUS a piora do atendimento médico afeta mais as mulheres. O mesmo pode ser dito da Educação, uma vez que sem creches e escolas em tempo integral, muitas mulheres não conseguem encontrar um emprego ou seguir com os estudos por não conseguir conciliar a maternidade com a busca por uma vaga num mercado de trabalho cada vez mais hostil. No caso das mães solteiras e jovens a situação é ainda pior.

O corte nos investimentos, parte do ajuste fiscal, também afetou os programas que visam à proteção da mulher contra a violência doméstica, o estupro, etc. Essa realidade se apresenta caótica para a vida e segurança das mulheres, pois recentemente o Brasil avançou duas casas no ranking entre 86 países com maior número de feminicídio, pulando da sétima para a quinta posição. Essa violência vitimou principalmente as mulheres negras, representando 17% de crescimento de casos sobre essas mulheres. A cada 11 minutos acontece um caso de estupro em nosso país.

Neste ano, para agravar ainda mais a situação, a queda no investimento em saúde se mostra um grande obstáculo para o combate à epidemia do Zicavírus. Já são mais de 4 mil casos de microcefalia, enquanto que a principal política de enfrentamento do problema é a responsabilização individual da população que deve manter limpa sua casa. Contudo, 26% da população brasileira vivem em áreas de esgoto a céu aberto.

Na crise internacional, elas também são as maiores vítimas
Um estudo realizado pelas organizações Plan International e Overseas Development Institute mostrou que a crise econômica global vem afetando mais meninas e mulheres do que os meninos e os homens.

O relatório final do estudo, que compila dados de diversas fontes, como estudos acadêmicos ou documentos do Banco Mundial, afirma, por exemplo, que a proporção de meninas que morreram desde o início da crise global aumentou cinco vezes mais rapidamente que a proporção de mortes de meninos. Além disso, a crise internacional levou mais mulheres a sofrerem abusos sexuais, drama que, para o sexo feminino, se soma ao desemprego, à pobreza e outros males decorrentes da crise.

“As meninas e as mulheres jovens estão sob risco específico durante períodos de incerteza econômica e estresse”, diz o relatório. Segundo um dos coordenadores do estudo, Nigel Chapman, dados do Banco Mundial mostram que em 59 países onde houve uma queda de 1% na atividade econômica, a mortalidade infantil aumentou em 7,4 mortes por mil meninas e em 1,5 morte por mil meninos. Ainda segundo Chapman, “as meninas são o grupo mais marginalizado do mundo”. Por causa da crise, muitas meninas foram tiradas da escola para ajudar em casa. “As meninas são sugadas pelas tarefas domésticas […] E uma vez que elas parem de ir à escola, é muito difícil que elas voltem ao ritmo normal”.

A luta contra o machismo é uma luta de classe
Neste sentido, a necessidade de unificação de todos os trabalhadores, homens e mulheres, contra os ataques dos governos e dos patrões é uma necessidade urgente. Que este 8 de março sirva para impulsionar os atos de rua e todo tipo de iniciativa que fortaleça a luta da mulher. Afinal, como é afirmado corretamente, “quando uma mulher avança nenhum homem retrocede”. Quanto mais mulheres na vida sindical tivermos, quanto menos machismo tivermos no local de trabalho, quanto mais homens aliados à justa luta em defesa das mulheres, contra a discriminação, maior e mais forte será a luta de toda a classe trabalhadora. Se há algo que enfraquece nossa luta, que nos divide, são os preconceitos disseminados e reproduzidos por nós. O machismo, assim como o racismo e a LGTBfobia, é um mal que deve ser combatido por todos aqueles que lutam contra a exploração, por um mundo mais justo, onde todos sejam livres e tenham – de fato – os mesmos direitos.

Com informações do Movimento Mulheres em Luta (MML), Esquerda Diário e BBC Brasil