Indignação, tristeza e revolta marcam ato de repúdio contra morte de petroleiro

REDUC

Ainda era bem cedo, mas o sol já espalhava sua força por trás do arco da REDUC. Companheiros da CIPA, membros de vários Sindipetros (RJ, Caxias e diversos estados), além de representantes das duas Federações, a Federação Nacional dos Petroleiros (FNP) e a Federação Única dos Petroleiros (FUP) se juntavam. O coordenador do Sindipetro Caxias, Sérgio Abbade, ao microfone, começava a pedir que os trabalhadores não entrassem, nem os de turno nem os administrativos. Indiferentes, muitos seguiam seu caminho e cruzavam os portões para mais um dia de trabalho, como se nada tivesse acontecido. A sensibilidade e indignação, contudo, fizeram com que outros parassem. Aos poucos, cerca de 700 pessoas se concentraram para falar, protestar, chorar, lembrar, lamentar, discutir, agir, planejar e rezar, em um comovente ato. Os companheiros e companheiras que desceram dos ônibus  e não entraram  (muitos pela primeira vez), se recusaram a banalizar a morte do técnico de operação pleno Luiz Cabral, de 56 anos, que caiu, na noite de domingo (31/1), por um buraco aberto no teto do tanque 7510, que continha resíduo de vácuo e só foi encontrado três dias depois .  O turno, que começava às 7h, atrasou cerca 3 horas.

“São os gerentes que impõem as metas, que dão as chicotadas, que forçam os petroleiros a trabalharem em condições precárias e perigosas como vemos nesse terrível caso aqui na REDUC. É por isso que é sempre o peão que vai virar estatística dos acidentes. Nossa principal bandeira é pela vida, para que deixemos de enviar coroas de flores às famílias dos nossos companheiros. A insegurança na Petrobrás está cada vez maior, principalmente em função do plano de desinvestimento. A ameaça de privatização também cria um clima muito ruim para nós. A empresa precisa voltar ao patamar de outubro de 2014 porque mais empregos ficam garantidos e a insegurança diminui entre os trabalhadores”, disse o coordenador da Federação Nacional dos Petroleiros (FNP) e do Sindipetro-RJ, Emanuel Cancella.

Muitos companheiros que fizeram uso da palavra,  não usaram a expressão “acidente”, mas sim “assassinato” e “crime”, responsabilizando as gerências e a empresa por negligência. Um dos principais motivos de revolta durate o ato, foi o fato de ter sido  “ventilado”, que um dos gerentes da REDUC chegou a dizer que Cabral teria “se suicidado”. “Isso é uma infâmia, uma vergonha, uma tentativa vil de culpar o companheiro. Cabral era nosso amigo, saiu e foi fazer uma medição de rotina, caiu através de um teto que estava aparentemente seguro, ou seja, era uma armadilha. Ele é uma vítima como tantas outras vítimas da incompetência e da ganância”, disse um dos companheitos de turno de Cabral, que prefere não ser identificado.

A empresa formou um Grupo de Trabalho de Investigação para apurar as causas da morte do companheiro Cabral, mas a Comissão Interna de Investigação de Acidentes (CIPA), da REDUC, além de participar do GT, organizou uma comissão de investigação independente. A FNP está preparando um boletim especial sobre a morte do companheiro que deve circular ainda esta semana.

Fonte: FNP