Venda de ativos com Petrobrás fragilizada é crime de lesa-pátria

Artigo

Adaedson Costa, coordenador-geral do Sindipetro-LP e secretário-geral da FNP

Por mais complexo que um assunto se apresente, muitas vezes nós mesmos complicamos algo fácil de entender. Ou melhor, os governos, economistas financiados pelo mercado e a grande imprensa fazem questão de abordar determinados temas de uma forma que chegue à população de maneira distorcida e incompreensível. Assim, seguem aplicando seus planos contra os trabalhadores como se fossem medidas necessárias, sacrifícios a serem tomados por todos. Nada mais falso.

No caso da Petrobrás temos muitos exemplos: privatização é chamada de desinvestimento, precarização das condições de trabalho é chamada de terceirização, retirada de direitos é chamada de readequação à realidade do mercado. Eufemismos que servem apenas para nos iludir.

Durante minha campanha para o CA da Petrobrás, tenho tido a oportunidade de conversar com muitos petroleiros e petroleiras sobre o futuro da companhia e todos demonstram grande preocupação com a política do governo para a Petrobrás. Numa dessas visitas, especificamente no CENPES, no Rio de Janeiro, um petroleiro com quem conversava me disse algo significativo, que explica o absurdo que representa a venda de ativos com um exemplo banal.

“Se eu quero vender meu carro, quero ter algum lucro com ele, vou preferir fazer isso com ele valorizado, limpando e arrumando ele antes de vender, ou vou oferecer com ele todo quebrado e sujo?”, comentou em tom de brincadeira para abordar um assunto muito sério. A analogia à venda de ativos valiosos para a iniciativa privada é muito feliz. O mesmo poderíamos falar de alguém interessado em vender uma casa. O corretor informa que o mercado está com valores muito baixos, mas afirma que se trata de um período passageiro, que em breve o seu imóvel voltará a se valorizar. O que você faz? Busca outras alternativas ou ainda assim insiste em se livrar de uma casa valiosa a preço de banana, construída após anos de esforço e trabalho? Nos parece óbvia a resposta.

Evidentemente, não se trata de concordar com o coro daqueles que gritam que a Petrobrás está quebrada, embora toda a corrupção envolvendo as fraudes e desvios de recursos identificada na operação Lava Jato tenha repercutido significativamente no valor da empresa. Políticos, empreiteiros e diretores, de um lado corruptos, de outro corruptores, prestaram um grande desserviço à nossa empresa, à categoria, que é honesta e constrói essa grande companhia. Sem perdão, todos aqueles que lesaram nosso patrimônio devem ser punidos e presos. Não por acaso, defendo em minha candidatura para o CA a imediata devolução do dinheiro desviado e imediata cobrança das empreiteiras de indenizações por danos e prejuízos causados à companhia.

Entretanto, cabe ressaltar que o valor de mercado da empresa, totalmente especulativo, em nada reflete a saúde operacional da Petrobrás e o imenso valor de seu patrimônio. Além disso, não se trata aqui de defender a venda desses ativos em períodos melhores. Mas não deixa de ser importante a reflexão: se em tempos de vacas gordas, já seríamos contra o desinvestimento por ser contra a Petrobrás que defendemos, contra a Petrobrás 100% Estatal, sendo uma companhia de energia integrada a serviço da população, o que dizer dessa medida em plena crise econômica, com o preço do barril de petróleo despencando e as ações da companhia desvalorizadas dia após dia?

A escolha do governo Dilma para tirar o país da crise, aí incluído o ajuste fiscal com retirada de direitos e cortes de investimentos em áreas vitais, se reflete na Petrobrás de maneira trágica. Não podemos admitir que a lógica tucana de privatização como solução para crises continue sendo aplicada governos após governos. Hoje, concretamente, podemos afirmar que assim como o Leilão de Libra, em 2013, a quebra do monopólio do petróleo na década de 1990, o desinvestimento nada mais é que um crime de lesa-pátria. Não há outro nome para o que se pretende fazer com um dos maiores patrimônios do país.

Se 2015 foi díficil, 2016 será ainda mais. A saída é a luta
No ano passado, com tantos ataques, tivemos que ir à luta. E valeu a pena. Este ano não será diferente. Ontem, durante entrevista a um programa jornalístico da Globo News comandado por Miriam Leitão, o ex-ministro da Fazenda Delfim Neto, antes saudosista da ditadura e mais recentemente auto-intitulado conselheiro dos governos do PT, fez abertamente a defesa de ataques à previdência, com uma nova reforma para forçar o brasileiro a morrer de tanto trabalhar, e de ataques aos direitos trabalhistas, clamando para que a CUT volte a defender o Acordo Coletivo Especial (ACE), que permite que o negociado prevaleça sobre o legislado, mesmo que isso signifique retirada de direitos adquiridos. Para ele, o Brasil está pronto para essas mudanças e a sociedade brasileira clama por isso.

Bem, sabemos há muito tempo quem Delfim é e quem Delfim representa. Quando ele fala em sociedade, está na verdade falando mercado, grande empresariado. Se trata, como citei no início do texto, de um eufemismo.

Com a Petrobrás não é diferente. O que o governo federal – pelas mãos de Bendine – está fazendo é justamente tentar agradar ao mercado, adotar medidas que deixem o mercado de “bom humor”. E isso se faz com medidas que atentam contra a soberania nacional, contra a defesa de uma Petrobrás pública, estatal. É escolher como saída para a crise a privatização da empresa. Já iniciaram a entrega da Gaspetro, que segue sendo alvo de ações na Justiça sem que saibamos seu desfecho, e agora busca como alvo a Transpetro. Isso sem falar na manutenção da entrega do pré-sal através dos leilões, que a oposição de direita há tempos tenta aprofundar entregando fatias ainda maiores às petrolíferas internacionais.

Aqueles que insistirem em eleger como inimigos apenas a imprensa e a oposição de direita – inimigos clássicos do povo – não serão capazes de preparar a categoria petroleira para os enfrentamentos que 2016 nos prepara. Em relação à Petrobrás e tantos outros temas, como o ajuste fiscal, governo e oposição estão juntos contra os trabalhadores.

Minha candidatura para o CA através da chapa 1616, indicada pela FNP com Ivan Luiz do Sindipetro-RJ como suplente, está a serviço desta luta. E como tenho falado em todas as oportunidades, diante das limitações do cargo e da fase da companhia, ter independência e autonomia diante dos governos e da direção da empresa passa a ser estratégico.

A eleição segue até domingo, ou seja, faltam pouquíssimos dias. Não deixe para a última hora. Para o CA da Petrobrás, vote 1616, Adaedson do Litoral Paulista e Ivan Luiz do Sindipetro-RJ.

Juntos, somos mais fortes!