PF indicia empregados da BW Offshore por acidente no ES, mas empresa segue impune

Insegurança

A Polícia Federal irá indiciar quatro pessoas pela explosão no navio-plataforma Cidade de São Matheus, no Espírito Santo, em fevereiro de 2015, no acidente que matou nove pessoas e feriu outras dezenas de trabalhadores.

Os indiciados são funcionários da BW Offshore, empresa norueguesa responsável pela embarcação, afretada da Petrobrás. Desses, três funcionários desempenhavam funções de chefia. Eles responderão por homicídio doloso e lesão corporal grave. Juntos, a condenação pelos crimes pode render até 20 anos de prisão para os envolvidos.

Curiosamente, o mesmo rigor não é aplicado à companhia – a responsável pelo crime. Até agora, nenhuma notícia de uma possível multa ou pena à multinacional. Com isso, punindo individualmente alguns funcionários, a Polícia Federal permite que a BW Offshore continue operando outras plataformas afretadas no Brasil. Uma delas, a Cidade São Vicente, que opera no Campo de Lula, no Litoral Paulista, segue sua rotina, seguindo padrões de segurança parecidos com o que resultou na morte dos petroleiros da empresa norueguesa. Por diversas vezes os Sindicatos ligados à FNP cobraram da companhia autorização para uma visita técnica nessas unidades, o que sempre foi negado.

Segundo investigações da Petrobrás e da BW Offshore, uma sucessão de erros causou o acidente. Fontes ligadas à Petrobrás detalharam ao jornal A Gazeta que meses antes do acidente um terminal cego (flange) foi instalado no circuito que fazia a transferência de água e óleo condensado, mas a resistência à pressão dessa peça era inferior à demandada pelo sistema.

Os inúmeros acidentes registrados nos últimos anos demonstram a ineficácia da fiscalização da Petrobrás sobre a administração de empresas terceirizadas, que acabam forçando seus funcionários, mal remunerados e sob forte pressão psicológica e financeira, a se sujeitarem a todo tipo de risco. Junta-se a isso a falta de efetivo para fiscalizar todos os contratos, e o que temos são empresas terceirizadas fiscalizando outras terceirizadas.

A companhia precisa investigar a fundo o ocorrido, combater, punir e criar um ambiente seguro nas embarcações e demais unidades, com foco em proteger vidas, seja pelo preço que for, sem pensar em poupar para o lucro.

Se por um lado a penalidade aos funcionários da BW Offshore serve de alerta aos gerentes que arriscam a vida de mães e pais de família para garantir a produção e o lucro, por outro demonstra que punir apenas empregados não resolve de fato o problema da insegurança na indústria petrolífera. Pelo contrário, ajuda a manter impune as empresas que geram riscos ao meio ambiente e às vidas dos seus empregados em nome do lucro.