A quem serve o discurso de incapacidade da Petrobrás?

A cena na década de 1950 nas instalações daquela que seria a Petrobrás de hoje lembraria os canteiros de obras de trabalhadores autônomos, com operários sem uniformes, alheios aos riscos de segurança de tanta informalidade. A frente destes trabalhadores, engenheiros e técnicos estrangeiros, que exibiam cantis de whisky, bebericados como água em frente aos “incapacitados” operadores brasileiros da recém-fundada companhia. O relato acima faz parte da memória de trabalhadores do início da instalação da Petrobrás, na Refinaria Landulpho Alves (RLAM), na Bahia, no final da década de 40, a primeira refinaria nacional de petróleo. A situação só mudaria depois que um levante dos trabalhadores brasileiros, que conviviam com petroleiros de toda parte do mundo, que lhes compartilhavam experiências profissionais e mostravam outra realidade salarial, enfrentaram suas limitações técnicas e assumiram a operação da companhia, afinal de contas, com técnicos trabalhando praticamente embriagados, fatalidades estavam prestes a acontecer. Foi assim, com a ousadia dos trabalhadores brasileiros em assumir os riscos e desafios em defesa das próprias vidas e com o apelo patriótico da época, que os avanços da Petrobrás foram possíveis. Ainda na década de 30 as grandes empresas do petróleo desestimulavam os investimentos no setor, de olho nas reservas ditas inexistentes por muitos geólogos a serviço das big oil. Mais de 50 anos depois e o mesmo argumento foi dado ao pré-sal brasileiro, que de imediato foi rechaçado como oneroso e inviável, sendo uma aposta arriscada, segundo análise do banco UBS Pactual, pois acarretaria à empresa um montante de US$ 1,2 trilhão até 2020 (como comparação, o PIB em 2007, um ano antes da análise do pré-sal, foi de US$ 1,3 trilhão). Oito anos depois e a produção do pré-sal extrai hoje mais de 800 mil barris por dia. O que parecia inviável hoje é responsável pelo aumento da arrecadação de empresas como Petrogal, Odebrecht Óleo e Gás, Odfjell, Queiroz Galvão, Saipem, Schahin, entre outras. Se hoje a Petrobrás está endividada, parte dos problemas da empresa pode ser creditado ao governo federal, que garantiu uma parcela de suas ações no patrimônio nacional que a estatal representa. A companhia é responsável por 80% das obras do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), com investimentos em termelétricas, refinarias, estradas, aeroportos, portos, indústria naval entre outros projetos, que impulsionaram a economia e garantiram o abastecimento energético necessário para que não houvesse apagões pelo país. Já os desvios revelados pelo Lava Jato demonstram não a incapacidade de existir como empresa estatal, mas a necessidade de tirar das mãos de políticos sem compromisso com a soberania do país o poder de decisão sobre a empresa. A venda de ativos e desinvestimento, principal plano de ação da diretoria da Petrobrás para sair da crise criada pelos próprios gestores, tem como desculpa a dificuldade em conseguir crédito para futuras ações e pagamento de investidores. Porém, só neste ano e com todo avanço da Operação Lava Jato, a Petrobrás já arrecadou US$ 18,5 bilhões nos mercados nacionais e internacionais. Desse total, US$ 7,5 bilhões em financiamentos e outros US$ 8 bilhões em acordos futuros de cooperação e leasing de equipamentos. Outros US$ 3 bilhões (R$ 9,5 bilhões) foram captados no mercado interno junto ao Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Bradesco. Estas captações, como vem sendo feitas hoje, aumentam o endividamento como uma clara opção do governo de deixar a Petrobrás nas mãos do mercado, enriquecendo ainda mais os bancos estrangeiros com o pagamento de altos juros. Se o governo salvou montadoras com a redução de IPI, as construtoras (as mesmas que sugaram o patrimônio da Petrobrás) com o PAC e agora dá mais incentivos à iniciativa privada com o Programa de Proteção ao Emprego (PPE), por que não pode ter um plano para salvar a principal estatal brasileira sem vende-la em partes? Infelizmente, trata-se de uma opção por atender a demandas de meia dúzia de bancos e acionistas que estão de olho em nosso patrimônio. Não por acaso, o PNG proposto pela empresa tem como principais incentivadores os membros do Conselho de Administração da companhia, que garantem para seus verdadeiros patrões negócios “da China”. Diferente do discurso da diretoria da empresa de que a companhia não tem recursos para manter os investimentos, só no pré-sal existe uma reserva com potencial de 28 a 35 bilhões de barris de petróleo, sendo que estas são as últimas reservas descobertas em todo mundo. Ou seja, mesmo com ao advento do petróleo de xisto nos EUA, que já aponta declínio na produção, e o avanço das energias alternativas, pelo menos nos próximos 50 anos o mundo precisará de nossas reservas para manter o crescimento. Os investidores sabem disso e estão empolgados com a crise econômica do país e com a possibilidade de garfarem uma parte da companhia. Para os empresários estrangeiros, ficou barato investir no Brasil. Segundo estudo da consultoria PricewaterhouseCoopers (PwC), 51% do capital aplicado nas operações de compra de participações de empresas no primeiro trimestre de 2015 tinha origem estrangeira. Proposta da categoria Com dólar em alta, queda no preço do barril do petróleo e dívidas estratosféricas, vender qualquer parcela da empresa será entregar a preço de banana um bem nacional que deveria atender as necessidades do povo. A diretoria da Petrobrás segue a cartilha dos investidores, que voltam os lucros da empresa para pagar acionistas, quando o ideal seria investir este montante na indústria de refino de derivados, que agregam valor, geram empregos e impulsionam a economia. Com um CA submisso aos desmandos dos especuladores, a Petrobrás está fadada a se tornar uma empresa exportadora de óleo cru, limitando as atividades da empresa a extrair o petróleo do fundo do mar. O Sindipetro-LP vê como única alternativa para a empresa uma maior participação dos trabalhadores nas decisões que vão desde a escolha dos membros do conselho, até a presidência da companhia. Os recordes de produção e metas atingidas pelos petroleiros garantiram à Petrobrás um lugar entre as 10 maiores empresas petrolíferas do mundo. Se somos capazes desses feitos, somos também capacitados para conduzir a empresa no rumo que ela deve trilhar, e este não é o de lucro para acionistas e sim desenvolvendo tecnologias, refinando e produzindo o suficiente para abastecer o país com derivados mais baratos, exportando o excedente, para garantir investimento em saúde, educação, moradia e transporte de qualidade. Tal como no início da Petrobrás, cabe aos trabalhadores dedicarem seus esforços para livrar a companhia dos perigosos forasteiros, que especulam, desvalorizam e tomam pelo menor preço as riquezas alheias.
Os recordes de produção e metas atingidas pelos petroleiros garantiram à Petrobrás um lugar entre as 10 maiores empresas petrolíferas do mundo. Se somos capazes desses feitos, somos também capacitados para conduzir a empresa no rumo que ela deve trilhar, e este não é o de lucro para acionistas e sim desenvolvendo tecnologias, refinando e produzindo o suficiente para abastecer o país com derivados mais baratos, exportando o excedente, para garantir investimento em saúde, educação, moradia e transporte de qualidade.
Tal como no início da Petrobrás, cabe aos trabalhadores dedicarem seus esforços para livrar a companhia dos perigosos forasteiros, que especulam, desvalorizam e tomam pelo menor preço as riquezas alheias.