Em visita à UTGCA, Sindicato cobra empresa sobre acidentes na unidade

Com o terceiro acidente de alto potencial na UTGCA em praticamente menos de um mês, os diretores liberados de Santos anteciparam a visita ao Litoral Norte (programada para quinta-feira) e passaram toda terça-feira (4) em Caraguatatuba.

Os diretores Adaedson e Fábio Farofa estiveram, ao lado dos diretores Carmelito (UTGCA) e Douglas (Tebar), durante todo o dia na UTGCA para conversar com a força de trabalho sobre a atual situação e para cobrar da gerência uma resposta efetiva.

No início desta semana, ocorreu uma explosão com princípio de incêndio na capela do laboratório. O acidente aconteceu após o vazamento de GLP no procedimento de descarte do produto. A sorte, de um lado, e a competência dos trabalhadores presentes no momento de outro, foram os elementos que garantiram que nenhum empregado saísse ferido. A possibilidade era grande.

Confira no vídeo abaixo o relato do diretor Carmelito sobre a visita à unidade

A visita do sindicato à unidade permitiu a coleta de novas informações, mas ainda não é possível apresentar um quadro conclusivo. De imediato, o que já se pode apontar são o tamanho reduzido do laboratório e a inexistência de Padrão Específico para o trabalho executado, o que por consequência deixa os trabalhadores à própria sorte. A cultura do improviso, do trabalho informal, aplicado por pressão e ordem das chefias, também se reflete neste acidente.

Para piorar, este incêndio aprofundou ainda mais a apreensão dos trabalhadores sobre a insegurança de uma unidade que, em tese, não deveria apresentar tantos problemas e recorrentes vazamentos. Seja no laboratório, na manutenção ou na operação, setores em que o sindicato passou para conversar com a base, é evidente o medo de um novo acidente e ainda mais grave.

Estrutura defasada A unidade, projetada inicialmente para abrigar menos de 100 trabalhadores, hoje conta com um efetivo de aproximadamente 400 pessoas – entre próprios e terceirizados. Esta expansão não veio acompanhada de uma ampliação planejada e coerente das instalações. O uso de contêineres como paliativo para o espaço reduzido do restaurante e para a ausência de vestiários em número adequado são apenas dois exemplos.

Problemas crônicos em todo o Sistema Petrobrás como manutenção precária, treinamento inadequado e reparos realizados na base da “gambiarra” fazem parte do modus operandi da gerência local, que ainda tenta individualizar a responsabilidade pelos acidentes. Como era de se esperar, isso é feito culpando os trabalhadores, com frases como “vocês precisam tomar cuidado”, “de nada adianta um bom técnico com jogadores ruins”, etc. Ironicamente, tais declarações são feitas muitas vezes pelos responsáveis por pressionar os trabalhadores a realizarem serviços com desvios e irregularidades em nome da produção e do lucro.

Adaedson criticou essa postura, muitas vezes colocada em prática nas reuniões de DDS, através de um exemplo muito concreto. "Eu falo que todo motorista é culpado pelos acidentes de trânsito, mas eu não falo do buraco na rodovia, da sinalização precária, da rodovia projetada de maneira errada. Não falo nada disso e aí fica fácil transferir responsabilidades. A mesma coisa acontece na Petrobrás quando se trata de acidentes de trabalho".

Dentro deste cenário, o Sindicato inclusive cobrou da empresa que seja feita de maneira consequente uma espécie de checagem da unidade entregue recentemente como parte do plano de ampliação da planta. Diversos problemas, identificados em sonda, por exemplo, além de vazamentos, demonstram que não houve o acompanhamento necessário para que a obra fosse entregue em plenas condições.

Outro problema apontado foi em relação aos RTA’s, muitas vezes emitidos apenas mediante pressão do próprio sindicato. Sabemos que existe nacionalmente a iniciativa de não se registrar esses relatórios para, superficialmente, conquistar números positivos de segurança. Isso é falsificar a realidade. E o pior, sob o risco de acidentar trabalhadores.

A comunicação dos acidentes, a transparência da companhia com os empregados quando acontecem esses fatos, foi uma das cobranças dos dirigentes aos gestores de SMS da UTGCA. A empresa ouviu as reivindicações da entidade. A partir disso, esperamos que haja uma mudança efetiva da empresa nesse campo.

Terceirização Outro problema identificado tem ligação direta com a terceirização desenfreada na companhia. Hoje, a UTGCA conta com apenas um técnico de segurança próprio no administrativo e em cada grupo de turno. Na prática, isso faz com que esses trabalhadores fiquem reféns de trabalhos administrativos, não tendo nenhuma condição de atuarem na área para a prevenção de acidentes.

De acordo com a empresa, após cobrança do Sindicato, a equipe de SMS será reforçada com seis novos empregados, apontando que destes já estão garantidos um técnico de segurança, um engenheiro de meio ambiente e um engenheiro de segurança.

Luta contra venda de ativos Aproveitando a visita à unidade, os diretores alertaram os trabalhadores sobre uma das lutas estratégicas neste período: a defesa da Petrobrás, contra sua privatização por meio do desinvestimento, da venda de ativos. Os riscos envolvendo a Petros, em decorrência dos últimos balanços deficitários, também foram citados. O objetivo do Sindicato é divulgar, em breve, uma cartilha à categoria com informações sobre a atual situação do nosso Fundo de Pensão.

Além disso, o Sindicato novamente reafirmou à categoria uma luta que a atual direção tem feito com bastante esforço: a unificação dos 17 sindipetros na batalha contra o desmonte do Sistema Petrobrás. É preciso que as diferenças existentes no movimento sindical não se transformem em uma trava para a necessária união dos trabalhadores.

Para Fábio Farofa, que indicou o dia 24 como uma importante data de mobilização, podemos e precisamos avançar. “A adesão da categoria foi muito boa em todas as unidades de nossa base onde houve movimento. Mas precisamos avançar. E isso se faz colocando o bloco na rua, dando volume para nossas manifestações, transformando esses dias de greve em dias de lutas com todos os trabalhadores na porta da empresa demonstrando sua insatisfação”.