O velho ataque da mídia aos trabalhadores e suas entidades representativas

Greve

Alguns dos principais meios de comunicação do país têm insinuado que um dos elementos da greve dos petroleiros seria a ruptura na relação, corporativista, entre a Companhia e os Sindicatos. A Folha de São Paulo, por exemplo, acaba de divulgar uma matéria com o título Greve dos Petroleiros reflete fim da lua de mel entre Petrobras e sindicatos (clique aqui e leia). Além disso, no tocante à pauta sobre as negociações do Acordo Coletivo de Trabalho, provocam distorção proposital para nos caracterizar como uma categoria de privilegiados.

Primeiramente, cabe uma ressalva colossal sobre o posicionamento que a Federação Nacional dos Petroleiros (FNP), formada por 5 sindicatos, inclusive este Sindipetro LP, tem adotado em relação à Direção da Petrobras e ao próprio Governo. Desde a fundação da FNP, e é neste ponto que reside a discordância com a Federação Única dos Petroleiros (FUP), esta entidade se posiciona livre e independente da empresa. Isto significa, em tom sintético, que os sindicalistas dissidentes não aceitaram cargos na gestão da empresa e, até hoje, recusam-se a facilitar as negociações de redução de direitos dos petroleiros em prol da governabilidade da Petrobras e, por tabela, do Governo Federal. Não concordamos em misturar o movimento sindical com a gestão da empresa, tão pouco em conformar alianças que prejudicam a ampliação e a consolidação dos direitos da categoria petroleira. Foi por este motivo, somado à pauta por um outro plano de recuperação da Petrobrás que não a venda de ativos importantes como a BR Distribuidora e a Gaspetro, que iniciamos nossa greve. Neste sentido, da parte dos sindicatos que compõe a FNP, temos plena tranquilidade que a coerência na defesa da categoria é intrínseca a nossa atuação. Podemos ser inexperientes, muitas vezes desorganizados, e temos clareza que nossa força sindical entre os petroleiros é diminuta. Afinal, somos apenas 5 sindicatos.

Infelizmente, estamos pagando o preço, não somente enquanto entidade sindical, mas enquanto categoria petroleira, dos erros de atuação e falta de coerência da FUP. Durante os últimos 12 anos, a categoria acompanhou sim uma verdadeira encenação em nossas campanhas de Acordo Coletivo de Trabalho. Mas este ano está sendo diferente, não somente porque a paciência de todos os petroleiros e petroleiras chegou no limite, mas, cremos, a própria FUP acenou com uma volta às origens. Em que pese nossas diferenças enquanto Federações, nada impede de caminharmos juntos numa campanha que visa defender o Sistema Petrobras e os direitos trabalhistas dos petroleiros. Não há crime nisso. Por sinal, os criminosos que dilapidaram a empresa (as empreiteiras, os corruptos, Diretores Executivos bandidos) estes sim mereciam toda crítica ácida da imprensa.

Quanto a nossa pauta de reivindicações, boa parte da mídia tem, tal como outra matéria da Folha de São Paulo (clique aqui e leia), ou mesmo o editorial deste jornal de 6 de novembro, o qual nos chama de “irresponsáveis”, ridicularizado-a. Vejam, nenhum trabalhador em sã consciência toleraria a supressão de direitos conquistados há décadas para se pagar uma conta causada por corruptos e pela má gestão da empresa. Sem contar que, no quesito salarial, ofertaram um reajuste salarial superior aos Diretores Executivos da Petrobras e, para o restante da categoria, algo menor.

Sabemos que a situação da Petrobrás é crítica e, por isso, em relação ao Acordo Coletivo de Trabalho, não reivindicamos nada mais, nada menos, que a manutenção de nossos direitos adquiridos e a correção salarial e demais benefícios, no mínimo, pela inflação.

Esclarecemos, também, caso a imprensa ainda não saiba, que sempre tivemos disposição para negociar. Diferentemente da Petrobrás que se levantou da mesa de negociações uma vez e cancelou reuniões pelo menos duas vezes. Diferentemente da postura das gerências das unidades da Petrobrás que têm solicitado a presença ostensiva da Polícia Militar em frente aos Terminais, Refinarias, prédios administrativos, para reprimir o direito de greve. Até o momento, pelo menos, 5 dirigentes sindicais já foram presos (nota, os corruptos continuam livres).

Por fim, apenas pedimos aos meios de comunicação de má fé, se não for muito, que abandonem a prática de distorção dos fatos e ajudem a construir uma história que permita aos de baixo, aos minorizados (pois os trabalhadores formam uma maioria), terem um pouquinho de razão.

José Eduardo Galvão – Diretor do Sindipetro LP, ainda em greve