Tratamento domiciliar da AMS coloca vidas em risco

*reprodução da matéria publica em O Petrolino nº 21O Departamento de Saúde do Sindipetro-LP está recebendo cada vez mais visitas e telefonemas. Infelizmente, a maior parte deles não é na busca de atendimento ou orientação e sim para reclamações, denúncias e pedidos desesperados de ajuda. A AMS da Petrobrás não só deixa a desejar, como é sabido há muito, mas também coloca vidas em risco. Quando o associado ou beneficiário tem alguma emergência ou problema de saúde, vai até um hospital credenciado e o tratamento é coberto pela AMS. Se o caso é de internação por longo período de tempo, há a possibilidade de encaminhamento para a casa e tratamento domiciliar. Esse serviço é chamado de home care, e a contratada da Petrobrás HOME DOCTOR é a responsável.Como as contas dos hospitais são caras, a Petrobrás/AMS pede (exige, melhor dizendo) ao médico responsável o encaminhamento o mais rápido possível. Em casa, o paciente deve estar sob as mesmas condições oferecidas dentro de um hospital. Mas não é o que acontece.O petroleiro aposentado José Leônidas Rodrigues é casado há 45 anos. Sua esposa Maria da Piedade Pereira Rodrigues desenvolveu câncer de mandibula e está em tratamento pela AMS há mais de dois anos. Foram feitas duas cirurgias para a retirada do câncer e implantado um enxerto no lado direito do rosto. Após 29 dias de internação no hospital AC Camargo, onde foi realizada a segunda operação, em São Paulo, Maria foi encaminhada para sua casa, no bairro Encruzilhada, em Santos, para tratamento e acompanhamento pelo home care.Quando chegou, no dia 15 de janeiro, o quarto do casal foi transformado em uma verdadeira enfermaria. Ela recebeu cama hospitalar, equipamentos de inalação, aspirador, suporte para soro e alimentação via sonda, balão de oxigênio, além de instrumentos e medicamentos necessários. Mas também neste dia começaram os problemas. O médico responsável no AC Camargo recomendou que uma enfermeira prestasse assistência 24horas, no entanto a profissional só passava 12 horas diárias ao lado da paciente. A mando do HOME DOCTOR", afirmou a profissional aos familiares. Após 25 dias, a enfermeira foi retirada e trocada por uma visita diária de outro enfermeiro para a troca e limpeza dos curativos. Essa mudança foi feita sem nenhum aviso aos familiares ou orientação específica do médico.Outros profissionais de saúde necessários para a boa recuperação de Dona Maria são fonoaudióloga, fisioterapeuta e médico. O médico deve fazer uma visita por mês, além de momentos em que é chamado pela família. A visita mensal de fevereiro foi cumprida corretamente e até o fechamento desta edição o médico não apareceu. Em uma noite de dificuldade de respiração, Leônidas ligou para a emergência do HOME DOCTOR e um médico foi até a sua casa mais de 24 horas depois do chamado. Fora o atraso, o médico não era o mesmo, portanto não tinha o histórico clínico, impedindo-o de dar o tratamento correto.O caso da fonoaudióloga foi o mais sério. Pelo câncer ser na mandibula e as cirurgias terem afetado toda a área do rosto esta profissional é de extrema importância. Além disso, a paciente fez uma traqueostomia e perdeu a fala natural, com um bom trabalho de fono pode ser retomada essa capacidade. Mas Dona Maria está sem fonoaudióloga. A médica foi umas poucas vezes e não voltou mais. Em seu último relatório ela afirma que a família não aceita o tratamento, registra que deixou exercícios para serem praticados pela paciente e diz que não voltará mais. Leônidas conta que as vezes que fez visita à casa, a fono foi mal educada, não estabeleceu uma relação de parceria com a sua esposa e até mandou a filha do casal `calar a boca´ quando ela exigiu explicações sobre o péssimo tratamento dado a mãe.Quando a estrutura foi montada e Maria foi levada para sua casa, não houve qualquer aviso ou orientação sobre prazos ou tempo mínimo de utilização dos equipamentos. No entanto, uma negligência aconteceu. Depois de 25 dias, o HOME DOCTOR entrou na residência da família e levou o aparelho de inalação e o balão de oxigênio. "Só não levou o aspirador porque eu implorei", desabafa Leônidas. A Petrobrás, a AMS e a contratada HOME DOCTOR deixaram Dona Maria desprovida de equipamentos, profissionais e quase à merce da sorte.A família, marido e filha, passam os dias ao lado de Maria para os cuidados e tratamentos necessários enquanto ela olha atenta e se comunica por gestos lentos mas precisos, já que ela está plenamente sóbria. "A família tem a parte sentimental junto. Não dá certo nós cuidarmos dela", se preocupa o marido.Pontuando outros absurdos-A HOME DOCTOR já é terceirizada pela Petrobrás e tem cerca de outras 3 ou 4 empresas de serviço de home care como terceirizadas.-Em muitos casos a pessoa deve ser levada ao hospital, por disponibilidade de mais recursos e profissionais de saúde. Mas a família é enrolada e o paciente continua em casa.-A esposa de Leônidas vai a São Paulo toda quarta-feira para acompanhamento com o seu médico do AC Camargo e avaliação da situação atual da paciente. Isso exige remoção em veículo adequado mas essas viagens são restritas a seis. Leônidas conseguiu, coma ajuda do Sindicato, mais nove remoções, número que ainda não satisfaz já que não deveria ser limitado.-Como está com a traqueostomia, Maria não tem condições de se alimentar normalmente e necessita de alimentação por sonda. Porém, a Petrobrás/AMS não cobre essa alimentação especial. A família recorreu ao Estado, que está fornecendo a alimentação. Mas não são todos que conseguem essa segunda opção e acabam se endividando para arcar com os custos.José Leônidas conta que ligou para a Petrobrás diversas vezes para explicações e soluções sobre o que está ocorrendo. Foi orientado a falar com as assistentes sociais da empresa, que responderam: "não podemos fazer nada, são ordens da empresa". Para piorar ainda mais a situação, há poucas semanas o HOME DOCTOR afirmou que retiraria o resto dos equipamentos deixados para os cuidados de Maria. Mais uma vez, Leônidas implorou para que não fossem retirados mas sabe que aparecerão em sua casa a qualquer momento.A história de Leônidas e Dona Maria é apenas um exemplo do que passa cerca de duzentos petroleiros que estão usando o serviço de home care da AMS atualmente. O descaso da Petrobrás é assustador e torna-se traumatizante para muitas famílias da Baixada Santista, sendo maltratadas pela prestação de serviços que é de responsabilidade da AMS. O Sindipetro-LP continuará cobrando da da Petrobrás mudanças urgentes de prestação de serviços das AMS e as empresas terceirizadas."