Combinação explosiva!

Programa de Otimização de Custos Operacionais (Procop), efetivo reduzido e pressão por aumento da produtividade é a fórmula dos acidentes na Petrobras
Cinco graves acidentes em diferentes unidades da Petrobras em menos de 40 dias. A única coincidência é que, graças ao fator sorte, nenhuma vida foi perdida, felizmente. De resto, tragédias anunciadas. A lógica da produção da Petrobras coloca o lucro acima da segurança e o resultado é a incidência cada vez maior de sinistros nos parques industriais da companhia.
A fórmula dos acidentes é formada pelo tripé Programa de Otimização de Custos Operacionais (Procop), redução do efetivo próprio de trabalhadores e pressão dos gestores por produtividade. O Procop diminuiu os custos na área de manutenção, mas nada se fala sobre acabar com as regalias de gerentes, supervisores e cargos de alto escalão, como transporte diferenciado e privilégios em relação à Assistência Multidisciplinar de Saúde (AMS).
Em relação ao efetivo, o cenário é assustador. Há tempos o Sindicato dos Petroleiros do Paraná e Santa Catarina denuncia a enorme carência de trabalhadores na Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), em Araucária (PR). Um levantamento realizado pelo sindicato entre os petroleiros em julho de 2011 apontou que seriam necessárias cerca de 400 novas contratações para operar a Refinaria com segurança.
Naquele tempo, o efetivo da Repar era de 969 funcionários, conforme relatório de movimentação de pessoal enviado pela própria empresa. O último documento recebido pelo sindicato, datado de dezembro de 2013, apontou o caminho contrário à reivindicação da categoria: houve retração de cerca de 8%. Hoje a refi naria conta com apenas 894 trabalhadores para operar em cinco turnos de revezamento ininterrupto e expediente administrativo. A redução foi causada por transferências autorizadas ou incentivadas pela empresa e aposentadorias.
Pressão e produtividade
A pressão por produtividade agrava ainda mais os riscos de acidentes. No caso da explosão e incêndio da U2100 (Unidade de Destilação), que aconteceu no final de novembro de 2013 e paralisou a produção da Repar por 22 dias, há um elemento que pode ter sido fundamental para a ocorrência. Por causa do aumento da demanda de mercado por Cimento Asfáltico de Petróleo (CAP), o produto passou a ser produzido também pela U2100. Em situações regulares o CAP é gerado pela U2500 (Unidade de Desasfaltação a Solvente).
O crescimento em alto ritmo da produção da Refinaria é perceptível nos dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP). Em 2010, a Repar produziu em média 169 mil barris de derivados por dia. Esse número saltou para 207 mil em 2013, um aumento na ordem de 22%. O recorde da unidade foi alcançado em junho de 2013, quando atingiu a marca dos 212 mil barris diários. De acordo com a ANP, a atual capacidade instalada da Repar após as obras de ampliação, finalizadas em 2012, é de 220 mil barris por dia. Em maio de 2011 a Repar recebeu multa de R$ 150 mil da ANP por operar acima da capacidade permitida.
Cronologia das tragédias
Dia 28/11/2013
Explosão seguida de incêndio na Unidade de Destilação (U2100) da Repar (PR) paralisou o processamento de petróleo na Repar por 22 dias. Por sorte, ninguém se feriu. O prejuízo com a interrupção da produção e importação de combustível para suprir a demanda do mercado foi de aproximadamente R$ 1,3 bilhão. O cálculo foi feito pelo Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).
01/12/2013
A cena se repete, mas dessa vez em Manaus. Explosão seguida de incêndio na
Refinaria Isaac Sabbá (Reman) causou ferimentos em três trabalhadores. O acidente aconteceu na parada de manutenção da Unidade de Craqueamento Catalítico (UFCC).
Causa teria sido o estouro de uma mangueira.
03/12/2013
Na Refinaria Gabriel Passos (Regap), em Betim (MG), trabalhador sentiu forte cheiro de sulfeto de hidrogênio (H2s) e acionou a equipe de Saúde, Meio Ambiente e Segurança (SMS) da refinaria, que constatou o vazamento de gás na U-108. Houve a interdição e toda a produção próxima ao local foi paralisada. O gás é altamente tóxico e inflamável. A exposição, dependendo do período, pode causar danos permanentes à saúde.
12/12/2013
Três empregados feridos durante a parada de manutenção da Unidade de Craqueamento
Catalítico da Rlam (Refi naria Landulpho Alves), em São Francisco do Conde, na Bahia. Um dia antes, outro trabalhador ferido após ser atingido por jato de vapor durante o trabalho de limpeza de tubulação.
01/01/2014
Dois incêndios deixaram em alerta os trabalhadores da Reduc e da Regap. Em Duque de Caxias (RJ), o acidente só não se transformou em tragédia em função da ação imediata dos trabalhadores. A Unidade de Coque da Reduc pegou fogo após a gerência ter aumentado em 20% a carga da produção. Operadores, técnicos de segurança e brigadistas reagiram com eficiência e destreza e conseguiram debelar o incêndio, que paralisou a unidade. Na Regap, um incêndio que durou cerca de 15 minutos. A brigada de combate a emergência foi acionada e o fogo debelado pelos operadores. Em 2013, várias ocorrências foram denunciadas pelo Sindipetro- RJ, que tem alertado à gerência da Regap para os riscos desnecessários a que os trabalhadores são expostos para cumprirem as metas de produção com efetivos reduzidos e sem as devidas manutenções de equipamentos.
Programa de Otimização de Custos Operacionais (Procop), efetivo reduzido e pressão por aumento da produtividade é a fórmula dos acidentes na Petrobrás

Cinco graves acidentes em diferentes unidades da Petrobrás em menos de 40 dias. A única coincidência é que, graças ao fator sorte, nenhuma vida foi perdida, felizmente. De resto, tragédias anunciadas. A lógica da produção da Petrobrás coloca o lucro acima da segurança e o resultado é a incidência cada vez maior de sinistros nos parques industriais da companhia.

A fórmula dos acidentes é formada pelo tripé Programa de Otimização de Custos Operacionais (Procop), redução do efetivo próprio de trabalhadores e pressão dos gestores por produtividade. O Procop diminuiu os custos na área de manutenção, mas nada se fala sobre acabar com as regalias de gerentes, supervisores e cargos de alto escalão, como transporte diferenciado e privilégios em relação à Assistência Multidisciplinar de Saúde (AMS).

Em relação ao efetivo, o cenário é assustador. Há tempos existe a denuncia em relação a enorme carência de trabalhadores na Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), em Araucária (PR). Um levantamento realizado entre os petroleiros em julho de 2011 apontou que seriam necessárias cerca de 400 novas contratações para operar a Refinaria com segurança.

Naquele tempo, o efetivo da Repar era de 969 funcionários, conforme relatório de movimentação de pessoal enviado pela própria empresa. O último documento recebido pelo sindicato, datado de dezembro de 2013, apontou o caminho contrário à reivindicação da categoria: houve retração de cerca de 8%. Hoje a refi naria conta com apenas 894 trabalhadores para operar em cinco turnos de revezamento ininterrupto e expediente administrativo. A redução foi causada por transferências autorizadas ou incentivadas pela empresa e aposentadorias.

Pressão e produtividade

A pressão por produtividade agrava ainda mais os riscos de acidentes. No caso da explosão e incêndio da U2100 (Unidade de Destilação), que aconteceu no final de novembro de 2013 e paralisou a produção da Repar por 22 dias, há um elemento que pode ter sido fundamental para a ocorrência. Por causa do aumento da demanda de mercado por Cimento Asfáltico de Petróleo (CAP), o produto passou a ser produzido também pela U2100. Em situações regulares o CAP é gerado pela U2500 (Unidade de Desasfaltação a Solvente).

O crescimento em alto ritmo da produção da Refinaria é perceptível nos dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP). Em 2010, a Repar produziu em média 169 mil barris de derivados por dia. Esse número saltou para 207 mil em 2013, um aumento na ordem de 22%. O recorde da unidade foi alcançado em junho de 2013, quando atingiu a marca dos 212 mil barris diários. De acordo com a ANP, a atual capacidade instalada da Repar após as obras de ampliação, finalizadas em 2012, é de 220 mil barris por dia. Em maio de 2011 a Repar recebeu multa de R$ 150 mil da ANP por operar acima da capacidade permitida.

Cronologia das tragédias

Dia 28/11/2013

Explosão seguida de incêndio na Unidade de Destilação (U2100) da Repar (PR) paralisou o processamento de petróleo na Repar por 22 dias. Por sorte, ninguém se feriu. O prejuízo com a interrupção da produção e importação de combustível para suprir a demanda do mercado foi de aproximadamente R$ 1,3 bilhão. O cálculo foi feito pelo Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).

01/12/2013

A cena se repete, mas dessa vez em Manaus. Explosão seguida de incêndio na Refinaria Isaac Sabbá (Reman) causou ferimentos em três trabalhadores. O acidente aconteceu na parada de manutenção da Unidade de Craqueamento Catalítico (UFCC). Causa teria sido o estouro de uma mangueira.

03/12/2013

Na Refinaria Gabriel Passos (Regap), em Betim (MG), trabalhador sentiu forte cheiro de sulfeto de hidrogênio (H2s) e acionou a equipe de Saúde, Meio Ambiente e Segurança (SMS) da refinaria, que constatou o vazamento de gás na U-108. Houve a interdição e toda a produção próxima ao local foi paralisada. O gás é altamente tóxico e inflamável. A exposição, dependendo do período, pode causar danos permanentes à saúde.

12/12/2013

Três empregados feridos durante a parada de manutenção da Unidade de Craqueamento Catalítico da Rlam (Refi naria Landulpho Alves), em São Francisco do Conde, na Bahia. Um dia antes, outro trabalhador ferido após ser atingido por jato de vapor durante o trabalho de limpeza de tubulação.

01/01/2014

Dois incêndios deixaram em alerta os trabalhadores da Reduc e da Regap. Em Duque de Caxias (RJ), o acidente só não se transformou em tragédia em função da ação imediata dos trabalhadores. A Unidade de Coque da Reduc pegou fogo após a gerência ter aumentado em 20% a carga da produção. Operadores, técnicos de segurança e brigadistas reagiram com eficiência e destreza e conseguiram debelar o incêndio, que paralisou a unidade. Na Regap, um incêndio que durou cerca de 15 minutos. A brigada de combate a emergência foi acionada e o fogo debelado pelos operadores. Em 2013, várias ocorrências foram denunciadas pelo Sindipetro- RJ, que tem alertado à gerência da Regap para os riscos desnecessários a que os trabalhadores são expostos para cumprirem as metas de produção com efetivos reduzidos e sem as devidas manutenções de equipamentos.

Fonte: Brasil de Fato