Petroleiros foram monitorados durante ditadura, apontam documentos

Documentos descobertos nos acervos da Petrobrás indicam que funcionários da companhia foram monitorados por órgãos de inteligência durante a ditadura militar (1964-1985). Os arquivos serão pesquisados pela Comissão Nacional da Verdade, que divulgou na última quarta-feira (20/02) a descoberta..

Segundo a comissão, os documentos eram produzidos por uma divisão de informações ligada ao extinto Serviço Nacional de Informações (SNI) que atuava dentro da estatal.

Os dados mostram que a vida pregressa de funcionários era investigada para se decidir, por exemplo, sobre promoções, admissões ou permissão para viagens. O objetivo seria identificar funcionários com histórico "subversivo" ou outras atitudes que contrariassem interesses da Ditadura.

São cerca de 400 rolos de microfilmes, microfichas e documentos impressos, encontrados em uma unidade da Petrobras em Duque de Caxias (RJ) e na biblioteca central da empresa, no Rio.

"Havia uma rede de órgãos de segurança da informação, muito mais vasta do que imaginávamos, monitorando os órgãos ligados ao governo", disse o secretário-executivo da Comissão da Verdade, Ricardo de Lins e Horta.

Para Horta, a descoberta pode indicar que outras empresas também tinham uma divisão de segurança da informação ainda desconhecida. Ele afirma que os documentos poderão revelar casos em que os próprios funcionários não sabiam que eram vigiados pela estatal.

De acordo com a Comissão da Verdade, o acervo, que está sob a guarda da Petrobrás, será totalmente digitalizado e remetido ao Arquivo Nacional em até seis meses.

Segundo o jornal Folha de S. Paulo, o periódico teve acesso a documentos que mostram que, em São Paulo, a Petrobrás solicitava ao Dops (Departamento de Ordem Política e Social) informações sobre possíveis funcionários.

Em um dos pedidos, de 17 de agosto de 1982 e com carimbo de "confidencial", o chefe da Divisão de Segurança Interna da estatal lista dez nomes e solicita "investigação político-ideológica" e "outros dados julgados úteis".

A resposta, enviada no dia 31 do mesmo mês, inclui a ficha de um dos nomes citados pela estatal, classificando-o como "elemento de entidade político-subversiva". Os documentos fazem parte do acervo do Arquivo Público de São Paulo e serão alvo de pesquisas da Comissão da Verdade paulista.

Monitoramento não é coisa do passadoEmbora estejamos vivendo sob um regime democrático, o fato dos anos de chumbo terem acabado não significa que a vigilância também foi eliminada no interior da companhia. Muitos ativistas da categoria continuam sendo investigados para que gerentes decidam quem merece" promoções e admissões. O objetivo também é, claramente, identificar funcionários "subversivos", ou seja, que realizam greve e não rezam a cartilha da empresa. Neste caso, as informações não são produzidas pelo Serviço Nacional de Informações (SNI), mas sim pelo GAPRE (Gabinete da Presidência)."