Estupro coletivo de adolescente expõe uma sociedade machista que banaliza a barbárie

Nota de Repúdio

Como uma entidade de classe que, mais do que lutar pelos direitos mais imediatos da categoria, luta também por uma sociedade mais justa, onde não haja nem exploração e nem opressão, onde homens e mulheres possam ser livres e viver em igualdade, o Sindipetro-LP se sente no dever de repudiar a verdadeira barbárie cometida na última sexta-feira (20) a uma menina de 17 anos, no Rio de Janeiro.

Trinta homens (!) cometeram um estupro coletivo filmado, fotografado e postado em redes sociais. Não bastasse este crime desumano, os agressores não contentes não pouparam os detalhes da barbaridade que cometeram. E, o pior, como sempre acontece ainda contaram com a ajuda de outros homens que, sob o sentimento de impunidade na internet, compartilharam o vídeo registrado com “piadas" sobre a violência cometida. “Não dói o útero e sim a alma”, teria dito a vítima do estupro. A dor deve ser compartilhada e sentida por todos aqueles que sonham com um mundo diferente, com uma sociedade onde as mulheres não tenham que aprender a se defender, mas sim onde não corram o risco de serem estupradas. 

A revolta que se transformou em reação, ainda bem, foi maior. O Ministério Público recebeu mais de 800 denúncias. Muitas, também, foram as ligações para o disque denúncia, sem falar no rechaço e na denúncia nas próprias redes. De nossa parte, devemos cerrar fileiras entre aqueles que dizem um não categórico à cultura do estupro. Devemos também tirar algumas lições dessa verdadeira tragédia. Até quando iremos considerar piadas machistas simples “brincadeiras inofensivas”? Até quando iremos carimbar aqueles que nos corrigem como “chatos” e "politicamente corretos”? Até quando iremos considerar feminismo sinônimo de “radicalismo”?

Para nós, é justamente o inverso. Radical é a realidade das mulheres que enfrentam cotidianamente o machismo na pele.Em nosso país, a cada uma hora uma mulher é estuprada. Em nosso país, políticos asquerosos como o deputado Bolsonaro fazem apologia aberta ao estupro e, mais do que impunes, ainda recebem elogios e simpatia de uma parte significativa da população.

Crimes como este e assassinatos contra mulheres, negros e negras das periferias e LGBTs acontecem todos os dias pela mão do Estado, seja diretamente pela polícia, seja pela disseminação da ideologia da opressão e pela impunidade e descaso completo com o tema, a começar pela falta de investimentos em políticas públicas mínimas. 

Nós, mulheres, aprendemos, desde pequenas, que somos propriedade de alguém. Primeiro, do pai que nos dá ordens e controla nossas vidas. Depois, de um marido que nos dita regras e tem o direito velado de nos punir com agressões psicológicas e físicas. Junto com isso, a mídia dissemina a ideia de que somos objetos de consumo masculino e impõe um padrão a ser seguido. E, assim, se constrói o mito da inferioridade da mulher.

O machismo é parte essencial desta sociedade injusta que vivemos: o capitalismo aproveita-se das diferenças para a impor uma condição de inferioridade à mulher e superexplorá-la. O machismo tem que acabar, e isso só vai acontecer com o fim da exploração do homem pelo homem. Enquanto isso, porém, é preciso continuar combatendo todos os dias e não permitir que situações de opressão, das mais banais até as mais hediondas como esta, sigam acontecendo e passem impunes. Todos, homens e mulheres, petroleiros e petroleiras, devem se indignar diante deste e qualquer outro caso de machismo e violência contra a mulher.

Por fim, uma observação. Não iremos tolerar qualquer comentário machista, qualquer tentativa de culpabilizar a garota por essa barbaridade. Temos lado e não fingimos neutralidade. Neste espaço, democracia não se confunde com conivência ou apologia ao estupro.

Departamento de Mulheres do Sindipetro-LP